Cartas à directora

Tropa fandanga

Um amigo de longa data que muito prezo dá-me frequentemente nas orelhas porque, diz ele, tenho um estranho partis pris em relação às nossas Forças Armadas. O nosso ponto de observação é, de facto, muito diferente. Ele serviu na Marinha e eu só fui às Inspecções. Ele comeu o pão que o Diabo amassou e eu só comi o cozido à portuguesa que era o prato do dia no quartel de Évora quando fui inspeccionado.

Feita esta prévia declaração de interesses, continuo a pensar que, como cidadão, tenho todo o direito de saber para onde vão os meus impostos e de que forma eles são gastos.

E continuo a pensar que os militares portugueses ainda não perceberam que, passados mais de 40 anos do fim da Guerra Colonial, o estatuto das FA não pode ser o mesmo. A reduzida participação de militares portugueses em missões no âmbito da NATO ou da ONU parece-me francamente pouco para um orçamento superior a 2 mil milhões de euros.

Este pequeno desabafo vem na sequência do que li no editorial do PÚBLICO de ontem. Palavra de honra que até me custa a acreditar! Desde que o Conselho de Segurança da ONU solicitou, com carácter de urgência, o envio de instrutores militares para o Iraque, cujo exército regular combate o Estado Islâmico, passaram-se mais de seis meses!

Imaginem só os meus amigos o que teria sucedido à Europa e ao Mundo se o nível de “prontidão e disponibilidade” das tropas aliadas que lutaram contra o nazismo tivesse sido como o das FA portuguesas! E isto há mais de 70 anos!

Palavra de honra que até me esforço, mas não consigo! Que dinheiro tão mal gasto…

Hélder Pancadas, Sobreda

A bomba de hidrogénio

É costume dizer-se que o Presidente da República dispõe da bomba atómica, significando que tem poderes para dissolver a Assembleia da República. Com esta decisão, provoca eleições legislativas e uma nova distribuição de deputados, eventualmente um Governo de outra cor política. É um poder que lhe é atribuído pela Constituição portuguesa, mas o Presidente é eleito por sufrágio universal.

Os pilotos da TAP não o foram e têm ainda mais poderes, fazendo lembrar a bomba de hidrogénio, ainda mais poderosa e destruidora. Com efeito, os pilotos, fazendo ou ameaçando com greve, têm poderes não só sobre os restantes trabalhadores da companhia aérea, mas sobre os mais importantes sectores da economia portuguesa, em particular sobre o turismo e tudo o que dele depende. Além disso, vão oferecer às suas concorrentes uma prenda que elas agradecem sem contrapartidas.

Será justo que uma classe que goza de bastantes privilégios possa exercer uma tal chantagem? Ainda é mais grave quando eles próprios reconhecem não terem dificuldade em encontrar empregos noutras companhias. Também será assim para os restantes trabalhadores da TAP?

Raul Fernandes, Porches

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