Cartas à directora

Todo o mundo é de todos os homens

Palmira sou eu e o que sou. Todos aqueles monumentos foram feitos pelos meus avós e os teus. Gaza tem uma bonita praia onde gostaria de me banhar, gozar o seu fim de dia, assistir ao pôr de sol empolgante, tão empolgante e meu, como é minha uma qualquer praia no Algarve e o seu pôr do sol. Alepo é uma das cidades mais antigas do mundo, é uma história minha – e tua – somos seus herdeiros naturais.

Qualquer refúgio entendo como casa, de que sou fiel possuidor da chave da porta de entrada. Simplesmente abro-a e pouso o chapéu, descalço os pés dos pós do caminho e preparo a melhor das refeições para receber os amigos, e descansarmos no remanço acolhedor, quente, de um espaço que é meu e deles e nos tranquiliza.

Chegamos até a dizer baboseiras e fazer pantomimas, quando findo o jantar estamos relaxados e seguros. Depois, dormimos num silêncio reparador que recupera a nossa inocência para a expectativa de um amanhã triunfal,de belo.

Posso, se quero e me apetece, atravessar todas as fronteiras. Em mim elas não existem, porque ando naturalmente, tomando nota das paisagens e das gentes que me acenam e que lhes aceno, nesse caminhar-passeio, com um à-vontade que até a mim me estranha, mas é assim que as coisas devem ser: andarmos sempre por todo o aí, leves como uma pena.

Falo todas as línguas, reconheço a agrado-me com todas as culturas, vem-me a lágrima fácil ao escutar as músicas e ver os folclores.

Estou tão bem aqui como na Patagónia. Os patagónios são como eu, assim como os sírios, os etíopes, os palestinianos, os judeus, os alemães.

Os nossos olhos absorvem e processam todas as malandrices e subtilezas da luz, a nossa pele vive os mesmo arrepios perante o prazer e perante a dor, os corações que são a alma e o órgão da vida, palpitam com os mesmos batimentos ritmados, e emocionam-se muito.

Deslumbramo-nos e desesperamos todos os dias. Somos homens, ainda bem!

Sendo assim, todos, tão iguais, como se pode presumir que este mundo não seja todo nosso?

Luis Robalo, Lisboa

Anda o diabo à solta?

Não bastavam as cenas de agressões físicas e mortais a ex ou companheiras, as nossas florestas incendiadas por malucos à solta, as desgraças dos migrantes, vêm agora as notícias do assassinato de dois agentes da autoridade, quando tentavam acalmar a discussão entre dois sujeitos, por causa do comportamento dos seus cães!

É certo que a sociedade nacional anda com os nervos em franja. Exceptuando umas centenas de cidadãos que ganham bem nos seus trabalhos, nas suas empresas, na passagem pela política ou em heranças chorudas, a classe média vê-se aflita para pagar as prestações da casa, do carro e as propinas dos filhos; os trabalhadores e idosos sem trabalho remunerado, cortes nos salários e pensões, subsídios de miséria, traz à tona de água o mau trabalho dos nossos governantes desde as freguesias até à República. Não basta este clima crispado, vêm ainda os partidos da não governação, a incendiar a opinião pública, com as acusações e soluções, com se fossem virgens impolutas capazes de tudo resolver. Fazer, mesmo mal, só faz quem sabe, criticar até as bestas criticam, mas pede-se à classe política que governe bem e depressa, ou isto fica uma selva com o diabo à solta.

Duarte Dias da Silva, Lisboa

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