Valorizar o que parece já não ter valor

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A forma como se olha, no presente, para os resíduos e a sua gestão vai determinar o estado futuro da economia e do ambiente de um país. As pessoas têm tendência para se descartarem dos resíduos a que dão origem. Esquecemos, muitas vezes, que quando nos estamos a ver livres de um resíduo, por este, na nossa perspetiva, não ter valor, é quando este pode começar a ser valorizado por toda uma cadeia de produção e um mercado cada vez mais desenvolvido.

Numa altura em que a crise domina a atualidade nacional e internacional, devemos olhar para o valor que os resíduos têm, para que possamos reintroduzir esse mesmo valor na economia. Ao se abandonar o paradigma do desperdício e ao adotar o paradigma de uma economia tendencialmente circular, com otimização dos recursos materiais e energéticos, está-se a ir ao encontro das metas traçadas na Estratégia Europa 2020 respeitantes a um crescimento inteligente, sustentável e inclusivo. E os ganhos futuros poderão ser ainda maiores do que os atuais a vários níveis.

Um estudo recentemente divulgado pela Comissão Europeia dá conta de que o setor da gestão dos resíduos e da reciclagem na União Europeia atingiu, em 2008, um volume de negócios de 145 mil milhões de euros, o equivalente a 1% do PIB da UE, representando cerca de dois milhões de postos de trabalho. Por outro lado, o estudo estima que a aplicação integral da legislação comunitária relativa aos resíduos economizaria 72 mil milhões de euros anuais, contribuiria para o aumento do volume de negócios anual do setor de gestão e reciclagem de resíduos do espaço comunitário em 42 mil milhões de euros e, até 2020, seria responsável pela criação de mais de 400 mil postos de trabalho.

Embora longe da perfeição, Portugal - onde há pouco mais de década e meia estava quase tudo por fazer na área dos resíduos sólidos urbanos - tem assistido a uma evolução notável nesta área. O sucesso conseguido ao nível da implementação de estratégias e da criação de infra-estruturas para gestão de resíduos trouxe benefícios ambientais evidentes, mas também económicos, não apenas pela poupança de recursos naturais como pelo contributo para o desenvolvimento de uma indústria, criação de empresas e de postos de trabalho. O país viu aumentar as retomas de resíduos de embalagens - em 2011, enviou mais de 711 mil toneladas para reciclagem - e, atualmente, pode orgulhar-se de ombrear com outros estados da União Europeia com políticas de recolha seletiva e reciclagem mais antigas e consolidadas.

A gestão dos diversos fluxos de resíduos assenta, em Portugal, no princípio da responsabilidade partilhada do produtor, o qual desempenha um papel ativo na gestão e financiamento da gestão dos resíduos gerados pós-consumo.

O sucesso deste modelo de gestão integrada de embalagens no seio da União Europeia está patente na generalização dos Sistemas Ponto Verde em muitos dos países comunitários, como Portugal, e extracomunitários, como o Canadá. Este é um modelo com potencial para ser exportado para outras geografias, devidamente adaptado à realidade de cada país.

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