Um sentimento de desenraizamento permanente

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Como dizia Brecht: "Não me sinto bem de onde venho/ Não me sinto bem para onde vou"

Portugal tem hoje a geração mais bem preparada de sempre, com o nível de formação mais elevado que alguma vez conseguiu alcançar, tanto na área técnica e científica como nas humanidades. Esta era uma aspiração antiga da nossa sociedade, uma forma de emancipação relativamente a um passado ainda recente com excesso de analfabetismo que nos fragiliza como povo.

A falta de ambição na Educação, que foi a marca infeliz ao longo de décadas, gerou um país com complexos, acabrunhado, descrente nas suas capacidades. Infelizmente, ainda hoje o ensino continua a ser tratado a pontapé, incapaz de gerar consensos e de ser valorizado como o mais precioso dos nossos bens comuns.

A Educação está indiscutivelmente associada ao progresso e é, simultaneamente, uma forma de valorização profissional e o mais eficaz instrumento íntimo de compreensão do mundo. Está associada às aspirações de ascensão social das últimas gerações que, com uma formação mínima, lutaram para que os seus filhos tivessem uma instrução máxima, para não sofrerem os efeitos do trabalho duro e mal pago, para não terem de emigrar.

O que choca hoje com este Governo elitista e inimigo da classe média é que escancarou as portas à emigração. E agora o mal está feito e hoje não se fala noutra coisa. Porque temos um primeiro-ministro e vários outros membros do Governo que tiveram a infeliz ideia de mandar os portugueses emigrar e assim espalharam a descrença, apesar de andarem de pin na lapela com a bandeira de Portugal. O resultado é que agora não há português que não esteja à espreita da primeira oportunidade para fazer as malas e zarpar para paragens incertas. Só que isto é uma monstruosidade política que destrói a esperança no futuro, porque desperdiça os seus talentos e interrompe as nossas vidas.

Este Governo, insensível e sem memória, passou assim por cima do esforço de emancipação de várias gerações, porque é incapaz de ter uma visão sobre o nosso futuro coletivo, porque não percebe a vontade antiga que milhões de portugueses têm de acabar de vez com as debandadas migratórias, que já se repetem há demasiado tempo.

Na última década Portugal esforçou-se particularmente por fazer emergir a importância da formação, da ciência e da tecnologia, da inovação, produzindo novas e melhores qualificações, gerando um sentimento de esperança nos jovens, compensando o esforço dos seus pais e do país. O dever do Governo seria fazer tudo para fixar no país todos os portugueses independentemente da idade e nível de formação, para honrar este esforço coletivo para superar o trauma da emigração permanente. Por isso, deixar o país porque somos empurrados é uma ofensa às aspirações mais profundas da nossa sociedade.

Tornamo-nos assim um país absurdo, que prepara com grande qualidade os seus jovens, para de seguida os exportar, em vez de criar oportunidades para que fiquem. Ao contrário do que pensa esta maioria PSD-CDS, quem parte por não ver futuro no seu país pode não querer voltar, porque entretanto se criam raízes e compromissos difíceis de abandonar depois, como sempre acontece com a emigração.

Portugal vive, assim, um sentimento estranho de desenraizamento permanente. Como dizia Brecht: "Não me sinto bem de onde venho/ Não me sinto bem para onde vou".

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