Revolução interrompida

Os resultados oficiais da 1.ª volta das eleições presidenciais no Egipto só deverão ser divulgados na terça-feira, mas já se sabe quem irá à segunda volta. O candidato islamita da Irmandade Muçulmana e o último primeiro-ministro do ex-Presidente Hosni Mubarak foram os mais votados. Terão obtido, respectivamente, 24,9% e 24,5% dos votos.

Nenhum dos vencedores representa porém quem foi para a rua na revolução de 2011. A classe média que desencadeou a queda de Mubarak terá votado nos 3.º e 4.º classificados nestas eleições. O 3.º é um socialista que obteve perto de 20% dos votos e o 4.º um islamita supostamente moderado que obteve 18%. Isto perfaz quase 40%, mas não foi suficiente para que um destes dois homens chegasse à 2.ª volta.

Porque é que quem desencadeou a revolução de 2011 votou nestes dois candidatos derrotados? Um deles, Amdeen Sabahi, é um socialista nem ligado aos islamitas nem ao antigo regime. O outro, Abouel Fotouh, um islamita supostamente moderado e menos radical do que o candidato da Irmandade Muçulmana que acabaria por ser o mais votado. Fotouh era visto como um depositário do voto útil - ou menos mau. As contas saíram trocadas porque, apesar de ser considerado um dos favoritos, não conseguiu melhor do que o 4.º lugar.

Parece que quem organizou toda esta festa não vai querer ficar até ao fim. A revolução de 2011 está para já órfã. O islamita Mohammed Mursi, da Irmandade Muçulmana, é o favorito para vencer a segunda volta. Se for esse o caso, o Egipto dará um salto em frente, mas para o passado. Há 16 meses, o povo egípcio perdeu o medo e saiu à rua para lutar por um sistema democrático. Mas sairia de novo à rua para lutar contra um sistema que diz seguir o islão? A resposta reside sempre no futuro.

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