O passeio da Linha

Foto

Ontem saímos do hospital para voltarmos para casa. Decidimos ir "por baixo", pela Avenida Marginal, Estrada Nacional 6, junto ao rio e depois ao mar, de Alcântara até ao Estoril.

Eram dez da manhã e, graças aos radares e aos limites de velocidade (50 e 60 e, às vezes, a loucura dos 70 km/hora), parecia a estrada de turismo que era nos anos 50. Desde que se olhasse para o lado do mar.

Quando o meu pai era menino, nos anos 20, Algés era a estação de veraneio dos lisboetas. As praias estavam limpas e os chalets eram bonitos. Estragaram Algés. Depois passaram para a Cruz Quebrada, que estragaram. E foram por aí adiante, sempre pela Estrada Marginal, estragando povoação após povoação, ficando apenas algumas das estações de comboio - Caxias, Santo Amaro, São João do Estoril, Estoril, Monte Estoril - para lembrar como era.

A devastação chegou a Cascais, avançando para o Guincho, no tempo de Judas. Agora, tarde de mais mas ainda a tempo de não destruir completamente aquilo que resta do que era "a Linha", já se vão vendo sinais de decadência e de recuperação.

A decadência e o descuido têm um efeito preservador. E outro perigoso: a tentação de demolir aquilo tudo e construir lá uma monstruosidade novinha em folha.

Mas, a certas horas e em certas circunstâncias (sair do hospital com a morte pelas costas e vida pela frente), a Estrada Marginal torna-se encantadora outra vez, encantando cada vez mais à medida que nos afastamos de Algés.

Sugerir correcção