Levem-no para casa

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Morreu Ray Bradbury. A última coisa que publicou foi uma memória incandescente chamada Take Me Home, que saiu na última edição (dupla) de The New Yorker (TNY), a primeira (e esperemos que a última) dedicada à ficção científica. Lê-se de graça no newyorker.com, onde Jon Michaud lembra que foi a segunda vez que apareceu em TNY. A primeira foi em 1947, com um conto chamado I See You Never que não era bem ficção científica. É vergonhoso que TNY só tenha publicado duas peças menores de Bradbury: uma em 1947 e uma em 2012.

Deixei de ler Bradbury a meio do princípio da minha adolescência mas, até aos meus treze anos, li tudo o que ele escreveu. Nunca deixou de me encantar. Nunca me zanguei com ele. Nunca o substituí, nem por Borges. Nunca me envergonhei de me ter apaixonado pela imaginação dele. Tal como ele, em Take Me Home (mas ele só com oito anos, no Outono de 1928), as histórias deles levaram-me com uma febre: "Raramente se têm essas febres mais tarde na vida, que nos enchem o dia inteiro de emoção". Bradbury, por ignorância e bondade (uma combinação mortífera), está a ser celebrado como um autor de ficção científica. Também era. Mas era, sobretudo, um escritor que imagina o futuro como se tivesse uma lembrança exacta dos sonhos de poder - de fazer nascer cada borboleta, de pôr cada sol - da infância que foi salva; que sobreviveu; que nunca se deixou reprimir ou esquecer.

Também ele não será esquecido. Nunca. Ele escrevia a criar.

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