Já se vêem os sinais

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O ultimato da Inglaterra de 1890 e a crise financeira que veio logo a seguir em 1891-1892 fizeram cair a monarquia. Talvez que, por si só, passada a histeria do momento, o ultimato não tivesse chegado. Mas, pouco a pouco, a crise financeira desmantelou o regime. Primeiro, houve anos de governos constitucionalmente irregulares (como agora na Grécia e na Itália). E, dali em diante, quando se tentou voltar à "normalidade", com um ou outro pretexto, os dois partidos "dinásticos" (o equivalente ao "centrão" desta nossa República) não conseguiram aguentar a sua velha coesão e acabaram por se dividir em facções, que tornaram Portugal ingovernável e a república certa. Quem julga que, passada a crise, em 2020 ou 2030, tudo voltará, como devia, ao seu sítio próprio, está muito enganado.

Os sinais já se vêem no comportamento do PS. Influenciado ou entusiasmado pela eleição de Hollande, o PS resolveu adoptar a retórica do "crescimento": e proclama o "falhanço" da troika como se ele fosse um espécie de triunfo privado, enquanto gaba os méritos de um "crescimento" imaginário, de que, de resto, não dá o mais leve pormenor e que, a existir, no essencial não depende dele. Mas nada disso aparentemente incomoda o sr. Seguro, que não hesitou em entrar numa pequena guerra com a maioria para se decorar com uma vantagem "táctica" e em "descolar" da troika para exibir a sua "independência". O sr. Seguro anda com certeza muito feliz, porque não percebeu ainda que prejudica o país com estas ridículas manobras e que, além disso, põe em causa a existência do PS ou, se preferem, a estabilidade da República.

As grandes coisas nascem das pequenas. Uma inclinação, ou mesmo uma simples vacilação, do PS para a esquerda pode provocar (e até já provocou) dissidências, não inteiramente inócuas, que tarde ou cedo tornarão a esquerda caótica e, na prática, impotente e que forçarão uma parte da direita para um populismo de sobrevivência. Nessa altura, Portugal não negociará com a troika, porque ninguém quererá negociar com ele. O Syriza é uma festa como foi o PREC, não é uma solução política. E os portugueses que sofrem não apreciam com certeza as manobras de partido ou os puros sentimentos da "inteligência", quando, em última análise, eles só servem para complicar a situação e não resolvem nada. A crise é um problema sério para pessoas sérias.

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