Eco, o conspirador-mor

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Li logo O Cemitério de Praga de Umberto Eco. É um livro de aventuras, cheio de intrigas e escândalos, com aldrabices, bombas, ilusões, paranóias, cadáveres escondidos nos esgotos e equívocos de identidade. É difícil de interromper, por ser tão empolgante.

Para mais, quase tudo aconteceu ou foi escrito por outros, no século XIX, como se fosse verdade. É digno de Dumas, pai. Teria esse valor literário, se fosse mais inventado. Mas, ao fazer e apresentar as ligações entre a ficção e a propaganda política - como a necessidade, tanto dos poderosos como dos despossuídos, de arranjarem inimigos próximos, de acusação simples - Eco é esplendidamente académico, académico com prazer.

O Cemitério de Praga é um convincente argumento - no bom sentido da velha filosofia analítica - do papel essencial que as teorias conspirativas, brutas, curtas e sensacionais desempenham nas mentiras de quem explora e nas fantasias de vingança de quem é explorado.

Só não gostei do fim do livro, em que Eco confessa o que é óbvio. Seria melhor não dizer nada, supondo que os leitores dele são curiosos e têm acesso à Internet ou a bibliotecas.

Eco é uma clara de ovo. Expõe e põe à prova a impureza e a delícia, sem fingir que não faz parte dele.

A graça dele foi transformar um panfleto desconfiado num almanaque de engraçados enganos que nos alerta e acusa de termos inimigos fáceis. Por termos de ter inimigos. Fáceis. É muito. É um grande feito. Obrigado.

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