Chegou o momento para o grande desígnio

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O próximo Conselho Europeu vai finalmente reconhecer que a austeridade precisa de ser complementada com políticas de crescimento e que estas últimas exigem investimento e não apena reformas estruturais. A recessão está a alastrar tão depressa que negá-lo deixou de ser possível. Por isso, podemos esperar que o BEI aumente o seu capital e a sua capacidade de crédito, que os project bonds vejam luz verde e que a utilização dos fundos estruturais se torne mais efectiva. O mercado interno deve ser completado sobretudo nos domínios da energia e digital. Será pedido aos Estados- membros que incluam planos de emprego nos seus programas nacionais de reforma, com particular atenção para a muito preocupante situação dos mais jovens.

Trata-se de passos importantes. Mas serão suficientes para ultrapassar a crise da zona euro? Infelizmente, não. O investimento e a criação de emprego, sobretudo pelas PME, estão confrontados com uma enorme falta de crédito por parte dos bancos em muitas regiões da Europa. O consumo privado está a cair em praticamente toda a parte, reduzindo a procura para muitos produtos e serviços europeus. E muitos orçamentos públicos não têm qualquer espaço para aguentar nem mais investimento nem mais consumo, porque os seus défices e dívidas são demasiado altos e porque os juros da emissão de dívida pública são extremamente altos e insustentáveis.

Esta é a nova situação em que estamos. De forma a relançar o crescimento - e avançar para um novo tipo de crescimento verde, inteligente e inclusivo- precisamos de mais do que reequilibrar as actuais políticas e instrumentos ao nosso alcance. Precisamos de criar novas políticas e novos instrumentos, de forma a completar a arquitectura da União Económica e Monetária: melhor coordenação económica de forma a reduzir os desequilíbrios macroeconómicos entre países superavitários e deficitários; uma política industrial europeia mais forte para desenvolver as vantagens competitivas da Europa na economia global; uma união bancária que garanta a estabilidade financeira, com maior supervisão europeia e reestruturação dos bancos; e uma união orçamental que garanta uma disciplina orçamental mais estrita conjuntamente com um instrumento comum que seja capaz de fazer descer o custo da emissão de dívida pública para níveis sustentáveis.

E, no entanto, continua a existir aqui um nó górdio por desatar. O que deve ser feito em primeiro lugar? Merkel argumenta que a união bancária e a união orçamental não são possíveis sem maior união política, significando isso maior partilha de soberania ao nível europeu. Hollande diz que uma união bancária e uma união orçamental devem vir primeiro. A única forma de cortar este nó é avançar ao mesmo tempo em todas estas áreas. A discussão sobre o que é que deve ser feito em primeiro lugar deixou de fazer sentido. Um acordo razoável, com direitos e deveres para todos, é necessário para completar a UEM. E a legitimidade democrática de todas as decisões ao nível europeu deve ser fortalecida.

Falta saber quando é que os actores políticos principais estarão dispostos a avançar nesta direcção. A pressão dos mercados, dos cidadãos, dos parceiros internacionais da União é hoje imensa. Os riscos que se estão a acumular em grandes economias como a Espanha e a Itália são preocupantes. Quando os países aumentam a sua dívida para resgatar bancos e os bancos aumentam a sua dívida para resgatar países, alguma coisa de fundamental está errada. A crise da zona euro atingiu indubitavelmente um novo e perigoso estádio, mas os actores políticos que são decisivos apenas se moverão quando se aperceberem de que "a tua crise é a minha crise".

Mas, enquanto o crescimento for sustentado, as exportações progredirem, o desemprego declinar, os bancos atraírem poupanças, os défices públicos e os spreads se mantiverem reduzidos, a opinião pública, sobretudo na Alemanha, não terá esta percepção. O problema é que existe o risco de retrocesso de todas estas tendências, pela simples razão de que o sucesso alemão não pode ser construído sobre a recessão dos seus parceiros. Se isto não for explicado e transformado em realidade, será provavelmente demasiado tarde para toda a gente.

Um grande desígnio, completando e reequilibrando a UEM, deve transformar-se agora em assunto de interesse vital para todos os Estados-membros.

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