cartas à directora

As cartas destinadas a esta secção devem indicar o nome e a morada do autor, bem como um número telefónico de contacto. O PÚBLICO reserva-se o direito de seleccionar e eventualmente reduzir os textos não solicitados e não prestará informação postal sobre eles.

Email: cartasdirector@publico.pt

Contactos do provedor do Leitor

Email: provedor@publico.pt

Telefone: 210 111 000Festival Terras sem Sombra

"A arte não é uma potência, um prazer ou um divertimento, a arte é uma coisa muito importante. É o órgão vital da humanidade, que transporta para o domínio do sentimento as concepções da razão." Lembrei-me destas palavras de Léon Tolstoi, em O que é a Arte?, ao ler a crónica de Fr. Bento Domingues no PÚBLICO do passado dia 15. Um texto profundo, que enfatiza como a música nos conduz até a um limiar misterioso. Fr. Bento pergunta-se: "A música ajuda ou atrapalha?" A resposta chega pela mão de Vergílio Ferreira, para quem a essência da religião é uma vibração artística. Não por acaso o Renascimento viu Deus não só como o grande arquitecto, mas também como o "músico dos músicos".

Mas a importância da música vai muito para além das esferas da sofisticação intelectual ou da fruição de um espectáculo memorável - é um sinal concreto de partilha e esperança. Fico por isso agradavelmente surpreendido com a experiência do Festival Terras sem Sombra, que o Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja promove desde 2003. Quando outras portas se fecham, as igrejas alentejanas tornam-se um espaço aberto a uma programação musical com o selo inteligente e sensível a que Paolo Pinamonti, o director artístico do festival, nos habituou no Teatro Nacional de S. Carlos.

Explicaram-me depois que o público enche por completo os belos monumentos onde decorrem os concertos, aliás, com notável acústica, e que os responsáveis por esta iniciativa são José António Falcão, um especialista em arte sacra de renome internacional, e a sua pequena equipa, formada por voluntários. Disseram-me também que tudo decorre num ambiente acolhedor e informal, em que músicos e espectadores conversam entre si e saem juntos para o campo, nos dias seguintes aos concertos, para colaborar em acções de conservação da natureza e da bioversidade. Projectos assim fazem a diferença e são o rosto do verdadeiro país. Mesmo ateu, atrevo-me a dizer que se trata de um "pequeno milagre".

Pedro Cavaleiro de Ferreira, Porto

Sugerir correcção