Amores açorianos

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No domingo Maria João estava a precisar de almoçar bem. Não podíamos correr riscos. Fomos ao Espaço Açores, ali ao pé do Mercado da Ajuda, onde o talento e o sábio e teimoso perfeccionismo de Alfredo e Maria do Carmo Alves desafiam quem quer que seja a não comer bem. Se já em 1998 sabiam deliciar as pessoas com os pratos típicos das várias ilhas açorianas, acrescentem-lhe mais 14 anos de experiência e investigação e verão como até o que é muito bom se pode tornar melhor. Nunca falham.

A Maria João, que não é generosa nos elogios gastronómicos e não é dada a manteigas, mesmo quando ficariam bem, chamou separadamente a Dona Maria do Carmo e o Dom Alfredo e, com solene honestidade, declarou que aquele polvo guisado em vinho tinto com bolo de milho era o melhor polvo que ela alguma vez tinha comido. E olhassem que ela era mulher de polvos e já tinha comido dos mais distintos.

As pessoas que ainda hesitam em usar a palavra paixão deveriam ir ao Espaço Açores para compreender o que é: é uma questão de trabalho, convicção e paciência, praticada todos os dias, indiferente à dificuldade de obter os ingredientes e de cozinhá-los como deve ser.

Se gosta de slow food, venha comer uma Alcatra da ilha Terceira, que está quatro horas no forno uma noite e mais quatro no dia seguinte para saborear o altíssimo umami/yummy do very slow food.

E lamenta o Alfredo que, antes daquelas duas assaduras, ainda havia de se fazer outra. Isso já é amor.

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