A oportunidade perdida da avaliação

Os profissionais da saúde fazem mal em desvalorizar os resultados da avaliação dos hospitais

A avaliação em Portugal de serviços públicos como os da educação ou da saúde avança a passo de caracol e os seus resultados continuam a ser olhados de soslaio por aqueles que mais deviam estimular a sua prática e analisar com profundidade as suas conclusões: os profissionais que lhe dão corpo. Em vez de servir como marcador de qualidade ou como motivo de incentivo, a avaliação do desempenho das instituições continua, infelizmente, a ser encarada ou como um exercício impossível ou como uma tentativa de punição ou de favor por parte do Governo às pior e melhor classificadas. É por causa deste vício que o bastonário da Ordem dos Médicos considera o ranking da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) "uma curiosidade" sem qualquer validade técnica ou científica. Se a classe médica (e os demais profissionais da saúde) continuarem a encarar o trabalho da ENSP como um exercício inconsequente ou um gesto diletante de investigadores, será difícil que o sistema no seu todo obtenha ganhos com a avaliação. Não se pretende que, num ápice, se institucionalize a liberdade de escolha dos estabelecimentos de saúde por parte dos cidadãos, nem se exige qualquer tipo de favorecimento (em dotação orçamental, por exemplo) ou penalização dos que se encontram nos extremos do ranking. Não se pode também pensar que na avaliação está a verdade absoluta. Nem se deve sequer exigir que os piores classificados sejam expostos na praça pública como negligentes ou incompetentes. Espera-se sim que a oportunidade sirva de lastro a uma discussão pública sobre as razões que, por exemplo, colocam o São João do Porto num nível de desempenho superior a outros hospitais. De resto, por muito que a Ordem discorde do ranking, os cidadãos há muito que sabem onde estão os melhores serviços de cardiologia ou de obstetrícia. Como, aliás, os próprios médicos, que ainda assim preferem tergiversar em vez de encarar a realidade.

Uma lei criminosa permite o massacre

Um título no site da CNN perguntava ontem, a propósito do massacre numa escola de Newton, no Connecticut, por que é que a violência está a crescer nos EUA, sugerindo mesmo uma ligação à crise, uma vez que os números da criminalidade aumentaram. É a pergunta errada. O problema levantado por massacres como este, que causou pelo menos 27 mortes, incluindo 22 crianças, não é o da violência dos americanos, mas sim o das consequências que a violência pode ter na América. Por outras palavras, é a recusa em mudar uma legislação que não põe entraves ao porte de arma que permitiu a Ryan Lanza matar a mãe, o pai e todas as pessoas que foi capaz de atingir antes de se matar. Essa legislação perdura em nome da liberdade; o corolário perverso dessa lei é o homicida de Newton ter tido liberdade para matar. A América ainda está longe de conseguir pôr a pergunta certa. E, portanto, os massacres vão continuar.

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