Gin and Dubonnet

A imprensa britânica não costuma ser particularmente meiga com os membros da família real: das "gaffes" do príncipe Felipe ao catolicismo da princesa Michael de Kent ou às ancas e pernas grossas da duquesa de York (ou Pork, na versão dos tablóides), nada e ninguém escapa ao olhar crítico de Fleet Street. Com uma única excepção: a rainha mãe, a avózinha mais querida da nação.Não é que a adorável senhora não tenha nada que se lhe aponte. Os correspondentes reais poderiam criticar, por exemplo, o facto de ela empregar mais de 30 criados, ter um gosto excessivo pelas corridas de cavalos e consumir uma garrafa de gin por dia. Poderiam referir o saldo bancário, negativo, de mais de um milhão de contos. Ou a absoluta falta de pontualidade - insolência criminosa num país em que os horários são muito mais do que uma religião. Mas no caso da rainha mãe, no entanto, tudo isto é olhado com um sorriso nos lábios e classificado como uma excentricidade divertida e desculpável. Ainda há poucos dias o país entrou em sobressalto quando a senhora foi internada de urgência para receber uma transfusão sanguínea. Menos de três dias mais tarde ela estava de volta à residência na Clarence House, a tempo e horas para comemorar o 101º aniversário com a salva de 62 tiros de canhão, o desfile da King's Troop e as flores e cartões dos populares. O dia incluiu igualmente um almoço em família e um espectáculo de ballet de mais de quatro horas.Qual é o segredo da vitalidade e longevidade da rainha mãe? Há quem refira os genes ou o facto de ela estar reformada há praticamente meio século - desde 1952, quando o marido, rei Jorge VI, morreu. Isso poderá ser importante mas, na minha opinião, o facto de ela ser uma pessoa que realmente adora os prazeres da vida também terá algum peso.A rainha mãe é uma visita frequente do Claridge's. Ela gosta de almoçar no nosso restaurante - salmão escocês fumado, cordeiro ou lagosta grelhada são alguns dos seus pratos preferidos. Por vezes toma um aperitivo de gin e Dubonnet e acompanha a refeição com meia garrafa de champanhe.A paixão dela pelo gin está bem documentada. Sabe-se que o Gordon's é um dos grandes fornecedores de Clarence House. "Não seria capaz de cumprir os meus compromissos sem a ajuda de um pequenino nada", afirmou a senhora, mais do que uma vez. As visitas da casa comentam frequentemente a facilidade com que ela bebe dois ou três aperitivos e vários copos de vinho ou champanhe durante a refeição. Antes de sair para as corridas em Ascot, Goodwood ou Epson, a rainha mãe gosta de beber um ou dois Gin and Dubonnet, bem fortes - os empregados de Clarence House chamam-lhe a "comunhão".Um dos livros mais antigos da minha biblioteca faz referência a um cocktail utilizando partes iguais de gin e de Dubonnet. O livro ("Cocktails: how to mix them") é de 1922 - nesse ano a rainha mãe era uma jovem beldade da aristocracia escocesa, acabada de chegar à sociedade londrina - e o autor, Robert, do "American Bar, Casino Municipal, Nice, e mais tarde do Embassy Club, Londres" explica que esse cocktail era conhecido anteriormente como Za-Za ou Zara.O Dubonnet é um dos aperitivos franceses mais famosos. A mistura secreta de vinho tinto do Mediterrâneo com ervas, plantas e especiarias foi inventada por Joseph Dubonnet, em 1846. Os franceses bebem-no puro, com gelo. Mas este aperitivo forte (19%), com um sabor intermédio entre o doce e o amargo, mistura bem com gin, rum ou simplesmente com água tónica ou ginger ale. Nos anos 60, os anúncios mostravam o actor Fernandel a gritar "Dubonnet, s'il vous plaît!" Se fosse hoje, era bem provável que a imagem sorridente e simpática da rainha mãe tomasse o lugar do famoso actor francês.

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