Amancio Ortega, o milionário discreto

Filho de um ferroviário e de uma dona de casa, o líder do grupo Inditex é já o espanhol mais rico, graças a uma avultada carteira de participações em que a roupa ocupa lugar de destaque com oito marcas e 27 mil trabalhadores em 35 países

Na sua última edição, a revista norte-americana "Forbes" fez a revelação do ano para o mundo empresarial espanhol: Amancio Ortega Gaona, 66 anos, o "senhor Zara", fundador e principal accionista - 59,23 por cento do capital - de Inditex, o império têxtil espanhol, é já o espanhol mais rico, quinto europeu e 18º no "ranking" mundial. Apesar da sua obsessão por ser discreto, o espanhol entrou para a lista dos milionários do planeta em 2001 no 43º posto, ascendendo um ano mais tarde para o 25º lugar e, em 2003, subiu outros sete degraus na escadaria dos mais endinheirados do planeta.Foi só em Maio de 2001, quando a Inditex entrou em bolsa, que foi conhecido o rosto do "senhor Zara". Por obrigação, Amancio Ortega deixou-se fotografar. Teve de ceder na discrição, mas manteve-se fiel a um dos seus princípios: foto sem gravata. Filho de um ferroviário e de uma dona de casa, nascido em Leão, mas desde 1951, ano em que completou 14 anos na Galiza, Amancio é o protótipo do "self made man". Após os estudos na Primária e, por necessidade, começou a trabalhar. Primeiro, como paquete da mais conhecida camisaria de La Corunha. Depois, mudou de estabelecimento: então, demonstrou a sua grande intuição para os negócios. Ainda jovem, iniciou o fabrico de roupões que ele próprio distribuía e vendia directamente. Depois, em 1975, vende essa empresa e começa com a fábrica e a primeira loja de Zara, em La Corunha. Foi o começo de um império, que hoje dispõe de oito marcas de roupa, 27 mil trabalhadores em 35 países, e permite ao discreto milionário ter uma avultada carteira de negócios em nome próprio. Através de várias sociedades, Amancio Ortega é accionista minoritário de bancos tão importantes como o Santander Central-Hispano, o Bilbao Viscaya Argentária, possui quase dois por cento do português Espírito Santo, é accionista das eléctricas Iberdrola e Union Fenosa, detém um por cento da Gás Natural de Espanha, tem capital da Enagás e ainda está na imobiliária Valhermoso. Também comprou cinco hotéis à cadeia espanhola NH, e é proprietário de um emblemático edifício de escritórios no madrileno Passeo de los Recoletos: uma operação avaliada em 60 milhões de euros.Foi a entrada em bolsa da Inditex em Maio de 2001, com um encaixe de 1,2 mil milhões de euros, que permitiu criar esta avultada carteira própria de negócios, até então confinados à representação de algumas marcas automóveis na Galiza. A operação na bolsa teve peculiaridades: a cada trabalhador do grupo Inditex foi oferecido um lote de 50 acções por cada ano de antiguidade. E foi compensadora: no dia do início da cotação, os títulos subiram 30 por cento e, no ano passado, o aumento foi de 4,5 pontos, quando o índice de referência Ibex desceu 26 pontos.Mesmo perante "a exposição capitalista" - a entrada em bolsa - quis ser fiel a um dos seus princípios: a proximidade. Nos primeiros anos de Zara, Amancio Ortega visitava semanalmente as suas lojas e, ainda hoje, almoça regularmente com os trabalhadores no refeitório de Artxeixo, a sede do seu Império, nos arredores de La Corunha. Mantém uma vida discreta, à volta do seu "Paço" - residência senhorial galega -, tem um pequeno barco, uma boa colecção de pintura e, dizem os que a "visitaram", uma excelente adega.Mas tudo começou com Zara, uma empresa onde, segundo os analistas, vigora o princípio da integração vertical, a primeira das razões do seu sucesso. A cadeia Zara e o grupo que lhe sucedeu, a Inditex, é o único que está presente em todo o processo, do fabrico à venda, do desenho à comercialização, num prazo máximo de cinco semanas. Por isso, a cadeia coloca, anualmente, dez mil modelos nos seus escaparates, situados em lugares chaves das cidades. Não há investimentos em publicidade - que absorve 3,5 por cento das receitas de venda dos seus competidores - mas campanhas na época dos saldos, que "consomem", apenas, 0,3 por cento dos seus lucros. O grupo de Ortega beneficia ainda de ser pioneiro na internacionalização: iniciado em 1988, com a abertura da primeira loja Zara no estrangeiro, no Porto, este processo leva a que hoje Zara facture mais no estrangeiro que em Espanha.À integração vertical sucedeu-se outro princípio de gestão, a inovação tecnológica. Através de um sistema de comunicação electrónica, via internet, a sede é informada regularmente do volume de vendas por produto. O que permite saber as preferências da clientela e ajustar a oferta da confecção às exigências da procura: um processo que não demora mais de duas semanas.

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