Revista Newsweek acusa Trump de violar embargo a Cuba e mentir a eleitores da Florida

Viagem de consultores da Seven Arrows em 1998 foi reembolsada pela empresa de Donald Trump, numa época em que isso era ilegal. Revelações podem desagradar a eleitores republicanos de origem cubana, que ainda hoje defendem o embargo.

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Donald Trump chegou a ser candidato pelo Partido Reformista em 1999/2000 Spencer Platt/AFP

O candidato do Partido Republicano a Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é acusado num artigo da revista Newsweek de ter violado o embargo a Cuba em finais de década de 1990, numa época em que a lei norte-americana proibia qualquer negócio ou tentativa de negócio com vista à abertura de hotéis, casinos ou campos de golfe na ilha então dirigida por Fidel Castro.

As acusações sobre a suposta vontade de Trump para fazer negócios com Cuba são antigas, e há dois meses o site Bloomberg Businessweek voltou ao tema, num artigo que relata viagens entre 2011 e 2013 de pessoas ligadas à empresa do magnata, e cujo título é uma pergunta: "Os executivos de Donald Trump violaram o embargo a Cuba?"

Esta quinta-feira, a capa da revista Newsweek foi mais longe e fez uma afirmação: "Eis como a empresa de Donald Trump violou o embargo dos Estados Unidos a Cuba."

De acordo com a investigação do experiente e premiado repórter Kurt Eichenwald, consultores norte-americanos da empresa Seven Arrows Investment and Development Corp. estiveram em Cuba em 1998, onde se reuniram "com membros do Governo, banqueiros e outros líderes do mundo dos negócios para explorarem possíveis oportunidades para a empresa de casinos" do actual candidato do Partido Republicano. Tudo isto, segundo a Newsweek, "com o conhecimento de Donald Trump".

Segundo o jornalista – que baseou o seu trabalho em "antigos executivos de Trump, registos internos da empresa e documentos entregues a tribunais" –, o objectivo dessa visita em 1998 foi "estabelecer uma posição para a empresa de Trump, no caso de Washington aligeirar ou levantar as restrições aos negócios" entre os dois países.

Mas por essa altura, ainda que se tenha começado a falar do possível fim do embargo a Cuba, nenhum cidadão norte-americano ou empresa podia gastar dinheiro no país durante visitas com objectivos declaradamente comerciais – as excepções eram organizações humanitárias, como a Cáritas, que eram autorizadas a pagar despesas de cidadãos norte-americanos no âmbito das suas acções de solidariedade social.

Segundo a Newsweek, o grupo de executivos viajou para Cuba sem autorização do Governo norte-americano e gastou pelo menos 68 mil dólares nessa viagem, pagos pela consultora Seven Arrows. Mas a factura foi reembolsada pela empresa de Donald Trump.

"Assim que os consultores viajaram para a ilha e fizeram despesas, a Seven Arrows explicou a responsáveis de topo da empresa de Trump – então chamada Trump Hotels & Casino Resorts – como tornar a viagem aparentemente legal, ligando-a a uma iniciativa de solidariedade social", escreve a Newsweek.

Apesar de não haver praticamente nenhuma hipótese de ser aberta uma investigação à viagem de 1998 (pelo tempo que já passou, pela falta de meios da agência responsável pelas investigações a possíveis violações do embargo a Cuba e pela recente reaproximação entre os dois países), estas revelações podem prejudicar o candidato Donald Trump no estado da Florida, onde a maioria dos eleitores de origem cubana do Partido Republicano ainda hoje se opõem ao fim do embargo a Cuba.

A estas suspeitas junta-se uma declaração de Donald Trump em 1999, também recuperada pela Newsweek. Na primeira vez em que o magnata tentou ser candidato à Presidência dos Estados Unidos, pelo Partido Reformista, deslocou-se a Miami para discursar perante eleitores norte-americanos de origem cubana. Nesse discurso – o primeiro da sua campanha –, Trump disse que tinha recebido propostas, "muito recentemente", para ir a Cuba avaliar oportunidades de negócio, mas só aceitaria esses convites "quando Cuba for livre". Sete meses antes desse discurso, escreve a Newsweek, a sua empresa reembolsara os consultores da empresa Seven Arrows que tinham viajado até Cuba em sua representação.

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