Militar é suspeito da morte de 11 pessoas em Cabo Verde

Foram mortos oito soldados e três civis no destacamento militar de Monte Tchota, na ilha de Santiago.

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Há uma caça ao homem no país Reuters

Um militar do destacamento de monte Tchota, na ilha de Santiago, terá morto 11 pessoas, oito outros militares e três civis, dois dos quais espanhóis. Não se tratará de atentado terrorista nem de um massacre relacionado com o narcotráfico, um pesadelo que nas duas últimas décadas atormenta Cabo Verde, e que os media locais rapidamente especularam que estaria relacionado com este caso que levou ao condicionamento dos aeroportos e portos do país. Na origem do caso estarão motivos pessoais, mas o autor do crime anda a monte, com todas as polícias de Cabo Verde à sua procura.

“Não existe ligação ao narcotráfico”, assegurou Paulo Rocha, o ministro da Administração Interna do recém-empossado Governo de Cabo Verde (entrou em funções a 22 de Abril), numa curta declaração ao fim de um dia pleno de especulações.

No monte Tchota estão todas as torres de comunicação de Cabo Verde, da Polícia, da CV Telecom, da Empresa de Aeroportos e Segurança Aérea (ASA) de Cabo Verde – é um ponto estratégico e altamente sensível no arquipélago. Por isso, quando a publicação Ocean Press avançou, pela hora de almoço, a notícia de que tinham sido descobertos 11 corpos no quartel, incluindo o comandante da guarnição e os técnicos espanhóis que faziam a manutenção do material de comunicação, foi lançado o alarme geral.

Foi avançada a notícia que tinha sido encerrado o aeroporto internacional da Cidade da Praia, em Cabo Verde, e os jornais lançaram imediatamente a hipótese de se tratar de um caso relacionado com o narcotráfico. Os portos de sotavento aumentaram também o nível de segurança. "Vai passar a fazer-se um controlo mais apertado à entrada e saída de navios, pessoas, bens, mercadorias dos portos”, disse ao jornal Expresso das Ilhas o capitão dos portos de sotavento, Manuel Claudino.

Mais tarde, a Empresa de Aeroportos e Segurança Aérea (ASA) de Cabo Verde esclareceu que o tráfego aéreo não tinha sido interrompido. Mas existiam grandes atrasos, porque está a ser feito um controlo rigoroso dos passageiros e das suas bagagens, explicava o jornal A Semana.

Os media diziam terem sido encontradas "oito armas AKM", de calibre militar, e apreendidas cerca de mil munições dentro de uma viatura alugada, encontrada na zona da Cidadela da ilha de Santiago, nas imediações da Universidade Jean Piaget. Este carro teria sido alugado por um estrangeiro, que é dado como desaparecido.

O ministro da Administração Interna confirmou que estas armas tinham desaparecido do destacamento militar e que foram todas recuperadas. Mas confirmou também que um militar, que se encontra desaparecido, é o suspeito da autoria das mortes.

Violência do narcotráfico

O caso foi quase imediatamente relacionado com o tráfico de droga porque não é inédito que forças da ordem, juízes ou até governantes se vejam apanhados pela violência do negócio ilícito que move milhões e milhões de euros, e que usa Cabo Verde como um conveniente entreposto no Atlântico, a meio caminho entre a América Latina e a Europa.

As autoridades de Cabo Verde têm dado luta ao narcotráfico: entre 2011 e 2014, o país apreendeu mais de duas toneladas de cocaína, sumariza o Gabinete das Nações Unidas para a Droga e o Crime. Mas em Setembro de 2014, um atirador matou a mãe de Cátia Tavares, a coordenadora da Secção Central de Investigação de Combate ao Tráfico de Estupefacientes da Polícia Judiciária de Cabo Verde, na sua casa, na Cidade da Praia. O próprio suspeito do homicídio foi morto, numa troca de tiros com a polícia. E o filho do então primeiro-ministro José Maria Neves ficou ferido num outro tiroteio, meses depois.

Foi a investigação do caso Lancha Voadora – o maior caso de apreensão de droga em Cabo Verde, com a descoberta de 1,5 toneladas de cocaína com elevado grau de pureza escondida numa cave da Cidade da Praia – que desencadeou esta violência, e marcou a sociedade cabo-verdiana. “Estão a tentar ameaçar as autoridades e o Estado na luta contra o crime organizado”, disse à Reuters Patrício Varela, director da Polícia Judiciária de Cabo Verde

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