Brasil: um país irmão a ferro e fogo

Um pouco de justiça brasileira ao vivo...

Fato é que enquanto milhares de famílias se viram lesadas, despojadas do sonho da casa própria, malgrado regular pagamento, o Ex-Presidente da República se viu contemplado com um triplex à beira da vistosa praia das Astúrias na cidade de Guarujá com direito a outras benesses, tais como: pagamento de reforma integral no imóvel para proporcionar mais bem estar a família, instalação de elevador privativo entre os três andares para evitar utilização das escadas, pagamento integral de móveis planejados na cozinha, área de serviço, dormitórios; enfim, em todos os ambientes da casa com a inserção, outrossim, de eletrodomésticos tudo às custas do generoso José Aldemário Pinheiro Filho, responsável direto pela OAS Empreendimentos SA…”

Este excerto da denúncia do Ministério Público num dos processos criminais em que são investigadas as actividades, rendimentos e património do ex-presidente Lula, tem uma resposta por parte do denunciado: o triplex continua em nome da construtora, nunca lhe foi vendido, embora lá tenha ido uma vez com a sua mulher Marisa e o filho Fábio Luiz Lula da Silva, “Lulinha”, que lá voltaram outra vez.

Segundo Lula, foram ver o apartamento mas o mesmo era pequeno e nunca o adquiriram, antes pelo contrá rio, pretendem a devolução do dinheiro com que tinham entrado para uma quota na cooperativa construtora do empreendimento. Certo é, também, que o triplex nunca foi vendido a ninguém, nem promovida a sua venda publicamente, que os vizinhos sempre ouviram dizer que era Lula quem ia para lá, que, na sequência da visita de Lula ao apartamento, foram feitas obras pela construtora de adaptação no valor de cerca de 80.000 euros e mesmo instalado um elevador. Os SMS trocados entre os responsáveis da construtora falam da obra da cozinha do “chefe” e da necessidade de marcar visita com a “Madame”. Mas o apartamento é de Lula ou não?

Para o ministério Público Federal, Lula recebeu-o da empresa construtora OAS no âmbito dos subornos da Petrobras, só se afastando do mesmo depois das denúncias na imprensa. Lula nega ser dono do imóvel e diz que anda “muito puto da vida, muito, muito zangado porque a falta de respeito e a cretinice comigo extrapolou”.

Já quanto à quinta em Atibaia, a mesma foi comprada por dois amigos de Lula, “para ele poder descansar”, segundo disseram. Mas segundo o Ministério Público Federal, os amigos são fachada e o sítio pertence a Lula da Silva que o utilizava como sendo seu. No circuito do dinheiro constata-se que as obras e o recheio foram pagos com dinheiro de envolvidos no esquema de corrupção da Petrobras. Parte dos móveis de Lula, no fim do seu mandato presidencial, foram directamente para Atibaia.

Lula protesta contra a actuação do Ministério Público e as fugas de informação para a imprensa em termos veementes: “Antes de eu levar o nome de alguém à dúvida, eu tenho que ter prova, (...) faz 7 anos que esse Brasil vive assim, na quinta-feira alguém da operação Lava Jato vaza uma matéria para a Folha de São Paulo, vaza uma matéria para O Estadão, vaza uma matéria para a Veja, vaza para a Época, (...), eu estou de saco cheio”.

No interrogatório de Lula sobre a quinta, o seu advogado interveio a certa altura nos seguintes termos: “Doutor, o senhor me permita uma intervenção, se a linha de investigação é que o sítio (Atibaia) é do presidente e não dos reais proprietários, isso é prova documental, ou seja, o senhor tem aí a escritura, o senhor tem o cheque que comprou o sítio. O fato de (Lula) frequentar, de ter pedalinho, de ter barco? Nós somos profissionais do direito, isso não transfere propriedade, isso a imprensa pode explorar, mas nós, operadores do direito, não podemos explorar isso”.

Já o Ministério Público Federal vê o problema da propriedade dos bens de outra forma. E enquadra-a dentro do fenómeno da lavagem do dinheiro: “Entre as tipologias comuns de lavagem, uma é justamente a do chamado empréstimo de regresso ou retro-empréstimo em que o dinheiro alegadamente emprestado já pertence ao tomador, havendo simulação de empréstimo, por parte da empresa ou da pessoa interposta para o lavador, dando a aparência de licitude ao dinheiro que desde o início já lhe pertencia”.

Mas as suspeitas criminais sobre Lula não se esgotam nos casos referidos. Os pagamentos efectuados à sua fundação, o Instituto Lula e a uma empresa sua, a IILS Palestras, alegadamente a troco de palestras, não são para o Ministério Público mais do que verdadeiras contrapartidas por parte das empreiteiras por vantagens indevidas e, agora, surgiu a acusação de que Lula teria procurado “barrar as investigações” do processo Lava Jato.

Certo é que Lula não hesitou: preferiu entrar para o governo a correr o risco de entrar para a prisão; mas seja o convite, seja a sua aceitação, seja a divulgação da conversa telefónica entre Dilma e Lula, seja ainda a suspensão da nomeação, tudo indica que no país irmão a “coisa tá preta”.

 

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