António Mosquito quer 100% do capital da Soares da Costa

Empresário angolano iniciou negociações para adquirir os 33,3% que ainda pertencem à SDC.

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Nelson Garrido

Dois anos depois de ter entrado no capital da Soares da Costa, adquirindo 66,7% do capital, por 70 milhões de euros, António Mosquito iniciou agora diligências para adquirir o restante capital, nas mãos da SDC.

A aquisição dos 33,3% que o empresário angolano ainda não controla deverá custar  38,5 milhões de euros, valor da opção de compra e venda estabelecida no acordo accionista assinado entre as partes em 2013.

O propósito de assumir a totalidade do capital da construtora, que chegou a ser a maior do país, acontece numa altura em que o accionista maioritário tem em curso investimentos da ordem dos 85 milhões de euros na reestruturação da empresa, que inclui um despedimento colectivo.

Em comunicado enviado ao regulador do mercado de capitais esta quinta-feira à tarde, a SDC (anteriormente designado Grupo Soares da Costa), cujo maior accionista é o empresário Manuel Fino, dá conta do início das negociações com o Grupo António Mosquito (GAM) para a venda do restante capital da construtora. No comunicado é ainda explicitado a que haverá uma "separação de responsabilidades conjuntas ou cruzadas que subsistem em algumas obrigações perante terceiros".

As negociações agora iniciadas representam uma antecipação do acordo accionista, assinado em 2013 e com a vigência de seis anos, e onde estava estabelecido que, a partir do quinto ano, a actual SDC, onde se destaca Manuel Fino, pode exercer o direito potestativo de venda da sua participação (put option), pelo preço de 38,5 milhões de euros. O acordo garantia a António Mosquito o direito de garantir a compra da participação, pelo mesmo valor.

Em entrevista recente ao PÚBLICO, o presidente executivo (CEO) da Soares da Costa, Joaquim Fitas, afirmou que apesar de António Mosquito ter renunciado recentemente ao cargo de chairman da empresa, o empresário não tinha vendido a sua participação, (como chegou a ser noticiado) e que estava "a fazer tudo para" que a construtora "volte a ser uma empresa de referência em Portugal e na África Austral, a partir de Angola".

A Soares da Costa, que mantém a sede em Portugal, mas é gerida operacionalmente a partir de Angola, onde tem entre 60% a 70% dos negócios, tem em curso um plano de reestruturação que implica um despedimento colectivo entre 420 e 450 trabalhadores, a concluir até Março. O despedimento, que terá um custo estimado de 18 milhões de euros, “é uma operação suportada pelo accionista”, garantiu Joaquim Fitas.

A construtora deverá ter terminado 2015 com um volume de negócios de 300 milhões de euros, e os resultados, segundo Joaquim Fitas, “vão surpreender, mas vão continuar negativos”.

O gestor admite que apesar da forte redução de obras pública e privadas em Portugal, a empresa pode quintuplicar o volume de negócios no país, salvaguardando que a base de partida é pequena. Em Angola, diz ter fundadas expectativas de que durante os meses de Janeiro e Fevereiro serão adjudicados à Soares da Costa um conjunto de obras muito significativo, que permitirão manter a estrutura de Angola activa e começar a aumentar o volume de negócios. Sobre a evolução da economia angola, o gestor mostra-se confiante, considerando que “estamos a falar de situações conjunturais e não de estruturais”.

Com mais de 90 anos de história, a construtora já mudou de mãos várias vezes. Por conversão de dívidas em capital, o BCP chegou a ter uma elevada participação accionista na construtora. A entrada de Manuel Fino na empresa foi feita no âmbito de um processo de reestruturação liderado pelo próprio banco, e que permitiu a sua saída do BCP da estrutura accionista. A entrada de António Mosquito foi feita no âmbito de uma nova reestruturação financeira liderada pelo BCP.

Para além da construtora, o empresário angolano detém em Portugal uma participação de 27% na Global Media, detentora de vários órgãos de comunicação, entre os quais o Diário de Notícias, Jornal de Notícias e TSF. Em Angola, possui negócios na área do comércio automóvel, imobiliário e participações financeiras.

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