Bandeira da Palestina já flutua na ONU, mas sonho de Estado pleno vem longe

Abbas anunciou que os palestinianos já não se sentem vinculados aos acordos de paz de Oslo, "continuamente violados" por Israel.

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Andrew Kelly/REUTERS

Lentamente, a bandeira vermelha, negra, branca e verde começou a subir. As máquinas fotográficas captaram o momento: eram 13h16 desta quarta-feira (18h16 em Lisboa) e, pela primeira vez, o símbolo da Palestina estava a ser hasteado na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, onde flutua agora, tal como as dos 193 membros e a do Vaticano, também ele "Estado observador não membro".

Na cerimónia, no jardim das Nações Unidas, Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestiniana, falou em "momento histórico". Pouco antes, da tribuna da Assembleia Geral, disse que os palestinianos já não se sentem vinculados aos acordos de paz assinados em 1993 em Oslo, nem a compromissos posteriores, por serem "continuamente violados" por Israel. E acusou o governo israelita de sabotar os esforços de paz dos Estados Unidos.

"Não podemos continuar vinculados a esses acordos assinados com Israel, e Israel deve assumir completamente as suas responsabilidades como poder ocupante."

O dirigente palestiniano disse também que as operações que as forças de segurança têm vindo a fazer junto à mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, podem levar a uma guerra religiosa.

A primeira reacção israelita veio do gabinete do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu. O discurso de Abbas em Nova Iorque foi "enganador e encoraja a que incitem à ilegalidade no Médio Oriente", refere uma declaração citada pela Reuters. "Esperamos e apelamos à Autoridade [Palestiniana] e ao seu líder para agirem responsavelmente e aderirem à proposta de Israel e entrarem em negociações directas com Israel sem pré-condições."

No seu discurso, Abbas reclamou o reconhecimento da Palestina como Estado de pleno direito, evocou os "enormes sacrifícios" e a "paciência" do povo palestiniano "ao longo de todos estes anos de sofrimento e exílio". Pediu ainda a todos os países que não reconheceram a Palestina que se juntem aos mais de 130 que já o fizeram.

A bandeira hasteada na sede das Nações Unidas "lembrará a todos que a justiça e a independência são possíveis", escreveu Habbas num artigo publicado no Huffington Post, na véspera da cerimónia. Mas, escreveu também, "as Nações Unidas devem dar" ao povo palestiniano "mais do que esperança". O dirigente palestiniano lembrou nesse texto que a questão palestiniana é "o mais antigo assunto pendente" da história das Nações Unidas, que este ano completam 70 anos. 

O momento vivido esta quarta-feira foi simbólico e marcante para a Palestina, depois da votação histórica de Novembro de 2012 na Assembleia Geral que a tornou "Estado observador", o que lhe permitiu passar a fazer parte das agências das Nações Unidas e aderir ao Tribunal Penal Internacional.

Mas as perspectivas de tornar realidade a coexistência de dois Estados – o israelita e um palestiniano – parecem difíceis de realizar. Ainda antes da declaração de Abbas, o processo de paz entre israelitas e palestinianos era há muito letra morta, o que se tornou ainda mais evidente após o fracasso da mediação norte-americana, na Primavera de 2014.

Os acordos de Oslo foram assinados a 13 de Setembro de 1993 pelo primeiro-ministro israelita, Yitzak Rabin, e o líder da Organização para a Libertação da Palestina, Yasser Arafat, sob mediação do Presidente norte-americano, Bill Clinton. As autoridades palestinianas eram reconhecidas por Israel e passava a existir um governo palestiniano interino. Um acordo definitivo deveria ser assinado no prazo de cinco anos.

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