Sócrates diz que querem impor em torno dele um “ambiente de isolamento”

Ex-primeiro-ministro emitiu um comunicado esta sexta-feira sobre notícias da venda da casa e de uma alegada investigação ao advogado paquistanês que a comprou.

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Sócrates garante que venda decorreu em "termos normais" Francisco Leong/AFP

O ex-primeiro-ministro José Sócrates reagiu ao fim da tarde desta sexta-feira, por intermédio dos seus advogados, às notícias relacionadas com uma alegada investigação por branqueamento de capitais ao advogado paquistanês que comprou a sua casa, no centro de Lisboa, insistindo que essas notícias “visam criar em torno dele um ambiente de isolamento por força de intimidação geral, levando a crer que quem se ‘atreva’ a manter com ele algum tipo de relação será investigado, a qualquer pretexto, mesmo o mais ridículo, terá a sua vida devassada, a sua honra espezinhada, o seu bom nome enlameado”.

No comunicado, emitido em papel timbrado dos advogados João Araújo e Pedro Delille, o antigo governante garante que o negócio foi “realizado nos termos normais e claros em uso no mercado”. E acrescenta: “A venda noticiada – um negócio privado entre dois particulares – foi negociada e concretizada através dos advogados de ambos os interessados, que não se conhecem nem conheciam, e com intervenção de mediadores devidamente acreditados e inscritos”.

José Sócrates lamenta as notícias que classifica de “evidentemente absurdas”, sobre o que chama “uma pretensa investigação e invocadas suspeitas que atingem a pessoa do comprador”. O ex-primeiro-ministro critica o silêncio das autoridades portuguesas sobre este assunto e apela à Polícia Judiciária e ao Ministério Público para virem “esclarecer urgentemente e publicamente” o caso “sob pena de serem associadas, pelo silêncio ou pela inspiração, aos autores” do que chama “criminosos ataques à honra das pessoas e à normalidade das relações entre os cidadãos”.    

Ao que o PÚBLICO apurou, a PJ está a analisar as transacções efectuadas pelo antigo procurador-geral do Paquistão, Muhammad Makhdoom Ali Khan, que comprou por 675 mil euros o apartamento e a arrecadação que Sócrates detinha no edifício Heron Castilho, um imóvel de luxo próximo da rotunda do Marquês de Pombal. Não existe, neste momento, nenhum inquérito-crime, trata-se de um processo administrativo que está a ser realizado pela Unidade de Informação Financeira da PJ, no âmbito da prevenção do branqueamento de capitais. Estes processos nascem de alertas feitos pelas instituições bancárias, que são obrigadas a reportar todas as operações que encaixarem em determinados critérios, por serem consideradas suspeitas.

Em declarações ao Diário de Notícias, Ali Khan garantiu que o dinheiro que usou para comprar a casa de Sócrates vem da sua “actividade como advogado” e nega ter feito qualquer tipo de transacção susceptível de ser considerado branqueamento de capitais, como ter efectuado pagamentos em dinheiro vivo.  

Ali Khan é uma figura conhecida no Paquistão, tido como um dos mais talentosos advogados nas barras dos tribunais. Foi procurador-geral do país entre 2001 e 2007. Desde então co-lidera uma sociedade de advogados em Karachi, participando também em muitas processos de arbitragens internacionais.

Segundo o consultor Luís Fábrica, da Abreu Advogados, o objectivo primordial do casal paquistanês era adquirir um imóvel. “Eles queriam uma casa na Europa, num sítio calmo e seguro”, afirma o advogado. Mas quando souberam que havia o programa de vistos gold, aproveitaram também a oportunidade.

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