As mentiras de Pires de Lima

O ministro da Economia faz um excelente exercício daquela prática dupla de enganar em casa e mentir fora.

Numa entrevista publicada há poucos dias num jornal galego, o ministro da Economia faz um excelente exercício daquela prática dupla de enganar em casa e mentir fora.

Mas o exercício de mentir abertamente a um jornal galego, ignorando que no dia seguinte todo o Norte terá conhecimento disso, apenas pode ser fruto da ignorância ou da arrogância. Ou de ambas.

Centrar-me-ei em duas questões que revelam o alto grau de desprezo que Pires de Lima sente pelo Norte. À pergunta da jornalista: "Após a inauguração do AVE entre a Corunha e Vigo, em que ponto se encontram as obras em Portugal da linha Porto-Vigo?", Pires de Lima responde sem qualquer pejo: "No processo de eletrificação. A minha homóloga Ana Pastor e eu reunimo-nos várias vezes para decidir o plano de infraestruturas ferroviárias entre ambos os países. A nova reformulação ferroviária Porto-Vigo foi fruto de acordos bilaterais para aumentar a sua utilidade e rentabilidade. É um tema importante."

Pois saibam que é uma grande mentira. Nada avançou na linha desde há dois anos. Nenhum concurso foi licitado desde o ano passado. E o dinheiro que se pediu para esta ligação ferroviária desconhece-se o seu destino, pelo que suspeitamos de que tenha sido desviado novamente para outra parte do país. Há quatro meses que pedimos que nos informe da situação da obra. Não houve resposta. Então pedimos ao primeiro-ministro, que deu instruções para que nos informasse. Não houve resposta. Voltámos a pedi-lo ao primeiro-ministro, que voltou a instruir a um tal de Pires de Lima, que nada respondeu.

Sendo que, apesar de tudo isto, Pires de Lima afirma sem embaraço que “há dois anos se inaugurou o comboio Celta, entre Porto e Vigo, que está a funcionar bem”. A única verdade. Continua Pires de Lima: "Demos prioridade às interligações ibéricas com a Europa, à linha de Sines-Badajoz-Madrid e à ligação Aveiro-Salamanca-Irún." Outra mentira. Nada se sabe de ambas as ligações. Nada se viu. Nem um só papel. Nem em Lisboa nem em Bruxelas, onde também perguntámos.

E já para finalizar, quando a jornalista lhe pergunta: "Que lhe parece a proposta do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, de um comboio de alta velocidade Porto-Vigo que passe pelo Sá Carneiro e que ligue com Leixões?", Pires de Lima responde sem titubear: "É a ideia que temos em cima da mesa. Há vários milhões de euros de fundos europeus destinados para isto." Mentira. A última, a maior e a mais gritante de todas as mentiras que contém a entrevista. Porque não há em cima da sua mesa nenhum projeto de alta velocidade. Há uma petição a Bruxelas de 138 milhões de euros para a modernização da linha do Minho, pela terceira vez, e qualquer comum mortal sabe que com 138 milhões apenas se moderniza o Alfa Pendular. Mas até na sua mentira se contradiz a si mesmo, já que afirma estar a trabalhar na alta velocidade, quando, na mesma entrevista, afirma que o Governo renunciou à alta velocidade porque não a considera rentável. E nesses 138 milhões não se contempla nenhuma ligação com Leixões, não se contempla o bypass com o Sá Carneiro e não se contempla o bypass com Braga, terceira cidade do país. 

Os portugueses não merecem um ministro que lhes minta. Nem um primeiro-ministro (boa pessoa e honesto, por certo) a quem os seus não obedecem. Asim que cando o Pires de Lima diga que fai sol, melhor apanhem o gardachuvas.

Secretário-geral da Rede Ibérica de Entidades Transfronteiriças

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