Os Dias da Música em Belém este ano são também os dias do cinema

Luzes, Câmara... Música! é o tema escolhido para a nona edição do festival que acontece no Centro Cultural de Belém de 24 a 26 de Abril.

Miguel Leal Coelho, António Lamas e André Cunha Leal
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Miguel Leal Coelho, António Lamas e André Cunha Leal Enric Vives-Rubio
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Madalena Wallenstein, Miguel Leal Coelho, António Lamas e André Cunha Leal Enric Vives-Rubio

A música ainda antes do cinema. A música no princípio do cinema. A música no cinema de agora. A música de ontem e de hoje. De Alfred Hitchcock a Stanley Kubrick ou Steven Spielberg. É dizer, a música de Bernard Herrmann, Richard Strauss ou John Williams. É esta a proposta da nona edição d’Os Dias da Música em Belém, entre 24 e 26 de Abril no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, onde se vai voltar a ouvir também pelas mãos de Mário Laginha a banda sonora que Bernardo Sassetti compôs para Alice, filme de Marco Martins. Como no cinema, o festival conta este ano com um concerto pré-inaugural, qual antestreia, no dia 23 de Abril no Cinema São Jorge, numa iniciativa com o IndieLisboa.

O tema, Luzes, Câmara... Música já estava escolhido ainda antes de António Lamas chegar à presidência do CCB, mas o presidente garante que, se tivesse participado na discussão, teria aderido à ideia sem reservas. Não há cinema sem música. Mesmo na altura em que a arte era muda. Não tinha falas, mas tinha a música. Recordem-se os filmes dos pioneiros irmãos Lumière, cujas projecções se faziam acompanhar por uma pequena orquestra, por vezes apenas um pianista.

“A sétima arte é uma forma de expressão artística incompleta. Podem não gostar destas palavras os cinéfilos, mas os cineastas compreendem”, diz o administrador do CCB e director artístico d’Os Dias da Música, Miguel Leal Coelho, na conferência de imprensa de apresentação da programação do festival, prometendo uma viagem à história “de toda a música e todo o cinema”.

Para António Lamas, o tema dedicado à música e ao cinema “é de uma grande actualidade”. Vão ouvir-se músicas que conhecemos quase desde sempre e que tantas vezes nem sabemos quem é o seu autor, o seu compositor. O que sabemos é o nome do filme onde a ouvimos pela primeira vez. “Esperam-se descobertas inesperadas em muitos dos participantes”, afirma António Lamas.

Qualquer coisa como: “Ah, esta é a música de 2001: Odisseia no Espaço!”, “E esta é a da Guerra das Estrelas, não é?”. “Como esquecer a banda sonora de Psico?”. “Isto é certamente de um filme do Woody Allen, não há engano.”

“O cinema permite-nos viajar pela história da música”, diz André Cunha Leal, consultor para a programação cultural, destacando como esta edição d’Os Dias da Música vai permitir ao público viajar entre a música de 1500 até aos dias de hoje. Seja através de concertos, de projecções de filmes com música ao vivo ou apenas com a exibição de algumas longas e curta-metragens – haverá um Espaço Cinema, isto é, uma sala de cinema na antiga loja Bertrand do CCB, agora apelidada de Sala Aurélio Paz dos Reis, o pioneiro do cinema em Portugal. No total, estão programados mais de 80 concertos, 73 dos quais em sala, além de conversas com músicos e realizadores e oficinas, especialmente dedicadas às crianças.

A programação para os mais novos é, aliás, uma das apostas da organização, à semelhança do que tem acontecido nos últimos anos, sob a coordenação de Madalena Wallenstein, da Fábrica das Artes (serviço educativo do CCB). Este ano, porém, a novidade é a parceria com o festival de Cinema Independente de Lisboa, o IndieLisboa, que levará ao CCB parte da programação do IndieJúnior, dedicado aos mais pequenos.

Os dois festivais, IndieLisboa e Os Dias da Música, acontecem ao mesmo tempo, pelo que “não fazia sentido que não houvesse um encontro”, diz Miguel Leal Coelho. Esse encontro começa desde logo na inauguração do Indie que se torna na antestreia d’Os Dias da Música. O festival do CCB vai até ao Cinema São Jorge, onde vai ser exibido o filme Around the World in 50 Concerts, da realizadora Heddy Honigmann. A escolha do filme não é por acaso: o tema une os dois eventos. Antes, há um concerto do Alis Ubbo Ensemble com temas de sempre apropriados pela sétima arte. No futuro, esta colaboração pode vir a crescer, garante o director d’Os Dias da Música.

Ao longo de três dias, pode-se esperar toda a variedade musical e cinematográfica possível, diz André Cunha Leal. Dos compositores que se distinguiram por fazerem música para filmes como Serguei Prokofiev, Dmitri Shostakovich, Bernard Herrmann, Michel Legrand, Ennio Morricone, John Barry ou John Williams, aos artistas actuais que querem ver as suas músicas no cinema como Phil Collins, Stevie Wonder ou os The Cure. E depois há os clássicos, os de sempre, os que vivem para além do cinema mas que ganharam uma nova vida com o grande ecrã, de Bach a Ligeti, passando por Handel, Vivaldi, Mozart, Beethoven, Schubert, Rossini, Liszt, Chopin, Wagner, Brahms, Tchaikovsky, Mahler, Richard Strauss ou Samuel Barber.

E não foi esquecida também a arte portuguesa. No sábado, por exemplo, há um concerto inteiramente dedicado ao início do cinema português. Vera Morais (flauta), Mário Franco (contrabaixo) e Francisco Sassetti (piano) prometem um espectáculo multimédia com a projecção de imagens e vídeos que vão levar o público ao Portugal dos anos 1930/1940, ao Portugal que teve como compositores Frederico de Freitas e Luiz de Freitas Branco, Afonso Correa Leite, Wenceslau Pinto e Raul Ferrão ou Ruy, e intérpretes como Mirita Casimiro, Beatriz Costa, Vasco Santana e Amália Rodrigues.

No mesmo dia, Mário Laginha homenageia Carlos Paredes e Bernando Sassetti com a banda sonora que o pianista, que morreu em 2012, compôs há dez anos para Alice, filme de Marco Martins. 

Os bilhetes estão à venda a partir desta quinta-feira.

 

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