Aguiar-Branco vale 0% em inquérito aos oficiais das Forças Armadas

Mais de 10% dos oficiais das Forças Armadas participaram no inquérito. O retrato é demolidor para o ministro. Maioria assinalável considera que operacionalidade e condições de segurança pioraram nos últimos anos.

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Daniel Rocha

A Associação de Oficiais das Forças Armadas recebeu 1227 respostas ao inquérito realizado. Neste universo que representa mais de 10% do total de militares graduados no activo, na reserva ou reforma, nem um considerou que o actual ministro da Defesa, José Pedro Aguiar-Branco, seja o responsável que “melhor tem defendido os militares” em relação aos seus interesses sócio-profissionais. O inquérito revela assim o irremediável distanciamento entre o titular da pasta e aqueles que lidera. A associação sócio-profissional – que o ministro acusou no passado de ter uma agenda política escondida por trás das suas críticas – é entendida pelos inquiridos como a entidade que melhor defende os interesses dos militares. 75% afirmaram-no categoricamente nesta auscultação.

O estudo de opinião foi um dos assuntos que juntou este sábado os oficiais num encontro, em Lisboa, no ISCTE, e de que o PÚBLICO revelara já alguns dados esta sexta-feira. A participação na reunião, segundo o presidente da AOFA, coronel Pereira Cracel, ficou aquém das expectativas. O que contrastou com o número de oficiais que – frisou o militar – aceitou participar no inquérito. O encontro tinha também como objectivo dar a oportunidade aos oficiais de apresentarem “propostas para iniciativas futuras”. Cracel identificou algumas como a de “confrontar seriamente as chefias militares com a situação” ou a de procurar outra “forma de diálogo ou negociação com o Governo”. O presidente da associação confirmou ainda que a direcção deverá agora estudar estas ideias para tomar uma decisão sobre o que fazer no futuro.  <_o3a_p>

Mas o ministro não é o único que fica mal na sondagem. O Presidente da República e comandante supremo das Forças Armadas, Cavaco Silva, é també, apontado como um interveniente inexistente pelos oficiais. Apenas 0,49% dos inquiridos consideraram que Cavaco Silva tenha tido um papel na defesa dos interesses dos militares. E as chefias militares são também fracamente avaliadas pelos subalternos. <_o3a_p>

O próprio inquérito indicia as razões por trás deste descontentamento. As alterações ao Estatuto dos Militares das Forças Armadas (EMFAR) e à Assistência na Doença aos Militares (ADM) são vistas de forma muito negativa pelos inquiridos. Os congelamentos nas promoções não ajudaram igualmente.<_o3a_p>

Mais de 86% dos oficiais que responderam ao inquérito consideraram que o actual modelo da ADM “não respeita a condição militar”. Mais de 60% concordam com a ideia de que existem “modelos ou subsistemas mais favoráveis que a ADM”. E mais de metade afirma que o sistema não tem “abrangência” suficiente.<_o3a_p>

Sobre o EMFAR, a percepção entre os oficais não é melhor. 68% concordam com a ideia de que a revisão levada a cabo por Aguiar-Branco teve como “objectivo a redução de custos com pessoal”. 77% consideram que a proposta “agrava os direitos e interesses dos militares”. <_o3a_p>

68% dos inquiridos responderam estar “insatisfeito” ou “muito insatisfeito” com a evolução da carreira. Entre os oficais no activo, 44% afirmaram que “se lhe fosse possível abandonariam a carreira militar”.<_o3a_p>

Nocivo para a imagem do Ministério da Defesa é igualmente a avaliação às “condições de operacionalidade” das Forças Armadas. Mais de 80% afirmaram que “pioraram” ou “pioraram muito”. Como se tal não bastasse uma larga maioria assegura que as condições de trabalho pioraram também. Por outro lado, 88,3% dos inquiridos consideram que a influência dos políticos nas Forças Armadas deveria ser mais moderada e 62,2% que a forma como são escolhidas as chefias militares era o factor que mais contribuía para a influência político-partidária na instituição castrense.<_o3a_p>

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