Jihadistas já chegaram às ruínas de Hatra com bulldozers e explosivos

Depois de Nimrud, os extremistas avançam sobre outra cidade histórica iraquiana património da humanidade com maquinaria pesada e explosivos. Não se sabe ainda o que destruíram.

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Turistas na cidade de Hatra, em 2002 Suhaib Salem/Reuters

Não se enganaram os arqueólogos que defenderam que Hatra seria o próximo alvo dos extremistas do autoproclamado Estado Islâmico (EI) que na quinta-feira saquearam e destruíram Nimrud, no norte do Iraque, uma das cidades mais importantes da antiga Mesopotâmia e ponto de referência na história da civilização.

Segundo a britânica BBC, os militantes do EI já começaram a avançar sobre Hatra, cidade histórica fundada há 2000 anos e que é património mundial desde 1985.

O ataque a este sítio arqueológico que fica a 110 quilómetros de Mossul foi confirmado ao canal público britânico por fontes curdas no norte do Iraque, que não precisaram ainda o que terá sido destruído. A extensão dos danos causados a Nimrud, cujo assalto com bulldozers aconteceu apenas uma semana depois dos jihadistas terem divulgado um vídeo que documenta o seu raide de destruição no Museu de Mossul, um dos mais importantes do Médio Oriente, também ainda não é conhecida.

Ao contrário de Nimrud, Hatra conserva ainda – ou conservava – vários objectos de pequeno formato, muitos deles em materiais preciosos. “A cidade de Hatra é muito grande e muitos artefactos antigos estavam protegidos dentro do próprio sítio arqueológico”, disse à BBC Said Mamuzini, um representante do Partido Democrático do Curdistão (KDP) em Mossul, acrescentando que os militantes levaram já todas as peças em ouro e prata.

À agência de notícias Reuters, o mesmo Mamuzini garantiu que o ataque foi feito com bulldozers e explosivos, já que as estruturas em pedra são de grandes dimensões (Hatra é conhecida pelos seus templos de colunas de influência clássica). Em Nimrud, recorde-se, também usaram bulldozers, num acto que a directora geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), Irina Bokova, classificou como uma "nova barbárie" e um "crime de guerra" a exigir uma "mobilização sem precedentes" da comunidade internacional.

Foi precisamente a comunidade internacional o alvo das críticas do ministro iraquiano do Turismo e das Antiguidades. Citado pela Reuters, o governante defendeu que foi a falta de uma resposta dura do exterior aos primeiros ataques do EI contra o património que levou o grupo radical a continuar com a sua campanha de destruição. "O atraso no apoio internacional ao Iraque encorajou os terroristas a cometerem outro crime, saqueando e demolindo as ruínas da cidade de Hatra", disse o ministro num comunicado.

O político terá recebido informações sobre o ataque à cidade através de funcionários do ministério em Mossul, controlada pelo EI, embora não tenha em seu poder quaisquer fotografias que documentem a extensão dos danos causados. Não há, aliás, ainda qualquer confirmação oficial independente de que o sítio arqueológico tenha sido destruído.

Dois dos correspondentes da Reuters no Iraque avançam, no entanto, que um residente na região, muito próximo de Hatra, lhes garantiu que ouvira uma forte explosão no sábado de manhã. Alguns dos maiores edifícios da cidade, asseguraram outros habitantes, terão sido demolidos.

De acordo com o site da UNESCO, Hatra é um excelente exemplo das cidades fortificadas do Médio Oriente, símbolo das lutas que opuseram os impérios parta (uma das potências da antiga Pérsia) e romano na hora de dividir o que restou dos domínios de Alexandre, o Grande. Terá começado por ser um pequeno povoado assírio, no século III a.C., para 100 anos depois se transformar num importante entreposto da Rota da Seda, podendo ser comparada a outras grandes cidades árabes, como Palmira, na Síria, ou Petra, na Jordânia. Os vestígios que nela hoje se encontram datam, na sua maioria, dos séculos I e II e neles, sobretudo nos templos, as marcas da arquitectura romana e grega misturam-se com motivos orientalizantes.

O EI tem vindo a impor pesadas perdas ao património iraquiano, procurando eliminar os vestígios do passado pré-islâmico do país. Os seus membros defendem que a destruição de esculturas, frisos, relevos e documentos milenares faz parte do seu combate contra a idolatria, proibida pelo Profeta.

Hatra e Nimrud ficam ambas a sul de Mossul, numa região com quase dois mil sítios arqueológicos registados (o Iraque tem 12 mil) e controlada pela organização terrorista desde Junho do ano passado.

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