Oito milhões de euros afastam Portugal da Expo Universal de Milão

Portugal é dos poucos países europeus que não vai à Expo 2015. A decisão, justificada principalmente pelos custos, coube ao Ministério da Agricultura. A CAP fala num “erro” e numa “oportunidade perdida”. O tema da Expo é a alimentação, um dos sectores que mais têm empurrado as exportações nacionais.

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Pedro Cunha

A Bielorrússia vai. A Espanha também. A Grécia e a Irlanda não faltam. Moçambique, Angola e São Tomé e Príncipe também decidiram ir. Portugal não. Portugal é aliás um dos poucos países da União Europeia que vai estar ausente da Exposição Universal de Milão, que abre as portas no próximo dia 1 de Maio e que terá como tema “Alimentar o Planeta, Energia para a Vida”.

Uma ausência notada, principalmente porque o tema da Expo 2015 está relacionado com um dos sectores que mais tem crescido nas exportações nos últimos anos, o agro-alimentar. O Ministério da Agricultura e do Mar, responsável pela decisão, justifica a renúncia em participar com “os custos de ter um pavilhão próprio, estimado entre seis a oito milhões de euros”, um valor ao qual seriam acrescentados “outros substanciais investimentos a uma necessária produção, dinamização e manutenção de um pavilhão durante seis meses.” O gabinete de Assunção Cristas acrescenta ainda que “as opções disponíveis em termos de localização de espaços”, não eram “as mais adequadas em termos de representação”, o que contribuiu para a desistência de participar.

A decisão não escapa à polémica. Nos ministérios que, pela sua esfera de responsabilidades, podiam ter uma palavra a dizer sobre a presença de Portugal em Milão, o tema é incómodo. O Ministério dos Negócios Estrangeiros manda perguntar o que se passou ao gabinete do vice primeiro-ministro, Paulo Portas, que tem a responsabilidade pela diplomacia económica. O gabinete de Paulo Portas manda perguntar ao Ministério da Agricultura. E, no fim da linha, Assunção Cristas fica com a responsabilidade integral por uma decisão que merece críticas contundentes do sector que tutela. No ano passado, Portugal exportou 5450 milhões de euros de produtos agrícolas, em cru e transformados, registando um crescimento de 7,7% face ao ano anterior, o que consolidou o sector entre os três principais pilares do comércio nacional para o exterior. Foi “um excelente desempenho”, admitiu a ministra da Agricultura quando os dados foram conhecidos.

Luís Mira, secretário-geral da CAP não sabe “como foi possível ter deixado passar esta oportunidade” para um sector que “tem revelado uma enorme capacidade de crescer nas exportações”. Até à data, a mais poderosa confederação de agricultores do país nunca foi contactada para se pronunciar sobre uma eventual participação de Portugal. Se o tivesse sido, a sua resposta seria inequívoca: “Esta seria uma grande oportunidade para mostrar ao mundo o potencial da nossa produção agrícola, principalmente nos sectores do azeite e do vinho, ou seja, alimentos essenciais da dieta mediterrânica, que hoje em dia são dois sectores de topo mesmo a nível mundial”. Luís Mira lamenta a “oportunidade perdida” e não percebe o que a tornou possível. “Há qualquer coisa errada, não estou a ver nem o vice-primeiro ministro Paulo Portas, nem a ministra Assunção Cristas a desperdiçar esta oportunidade”, afirma.

O processo de decisão demora anos e obedece a formalidades. Portugal, como cada um dos 168 países que integram o Bureau Internacional de Exposições, é oficialmente convidado pelos canais diplomáticos para participar nas Exposições universais, que nas últimas décadas ocorrem de cinco em cinco anos, ou nas Exposições mundiais, que são organizados nos períodos intermédios. O convite é por isso sido endossado ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, que o acolhe e o distribui para decisão para o ministério que tutela a área temática da exposição em causa. Como em Milão o tema é a alimentação, a decisão foi remetida para o Ministério da Agricultura.  

No decurso da tramitação, parece ter havido falta de informação e uma provável desvalorização de um certame que vai ser visitado por mais de 20 milhões de pessoas e que servirá como uma plataforma de promoção e de negócios do sector agro-alimentar. O que explica o desconhecimento da CAP e da PortugalFoods, uma associação que reúne empresas, representantes do sistema científico e tecnológico e instituições regionais.

Por definição, as exposições mundiais ou universais não são comparáveis a feiras comerciais, mas na página da internet da Expo 2015 há um canal para a promoção de negócios. Nos bastidores nota-se que a escolha do tema da exposição está associada ao poder da indústria agro-alimentar italiana. Nos desenhos dos pavilhões, os destaques são concedidos aos produtos mais exportáveis de cada um dos países. Dos queijos da Suíça às frutas ou azeites de Espanha, a Expo 2015 vai tornar-se num evento no qual todos tentarão mostrar o seu potencial de internacionalização agrícola. No entanto, os representantes do sector agro-alimentar só agora parecem ter dado conta da valia da Expo de Milão. Hoje, a direcção da PortugalFoods vai discutir uma proposta da AICEP para participar numa acção de promoção em Milão. Que nada terá a ver com o grande evento anunciado para Maio.

Desde que assumiu a responsabilidade de organizar a Expo 98 em Lisboa, Portugal só por uma vez esteve ausente nas grandes exposições internacionais: na Expo mundial de 2012, em Yeosu. Mas esteve em todas as Exposições Universais: em Hanôver, em 2000, em Aichi, no Japão, em 2005, e em Xangai, em 2010 – pelo caminho esteve também na Expo mundial de Saragoça, em 2008. Em Xangai, a participação portuguesa foi considerada um sucesso, até pela ousadia do seu pavilhão, com superfícies construídas à base de cortiça. Nesse evento, a maior Exposição de sempre quer em número de países participantes, quer de visitantes, Portugal investiu cerca de cinco milhões de euros. E a sua presença foi co-financiada por empresas. A Corticeira Amorim, por exemplo, forneceu gratuitamente toda a cortiça para o pavilhão.

Em Milão vão estar presentes 145 países dos cinco continentes. Da Europa só faltam os nórdicos e a Croácia. E Portugal.

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