Militares assumem “governo de transição” no Burkina Faso após dia de caos na capital

Presidente Compaoré tentou mudar a Constituição e enfrentou uma revolta. Não se sabe qual o seu destino.

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Um manifestante anti-Governo ficou ferido Joe Penney/Reuters
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O protesto contra o Presidente Blaise Compaore começou no início da semana ISSOUF SANOGO/AFP
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Os manifestantes no Parlamento, que foi incendiado Joe Penney/Reuters
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A estação pública de televisão foi ocupada; as emissões estão suspensas Joe Penney/Reuters
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À porta do Parlamento Joe Penney/Reuters

O chefe do Estado Maior das Forças Armadas do Burkina Faso anunciou a dissolução da Assembleia Nacional e a criação de um governo de transição que durará, no máximo, 12 meses. No entanto, ao fim de um dia em que a capital deste país da África Ocidental esteve a ferro-e-fogo, o general Honoré Traoré não disse quem dirigiria este governo, nem qual seria o futuro do Presidente Blaise Compaoré, que está no poder há 27 anos e desencadeou a violência ao anunciar uma revisão da Constituição para se candidatar uma quinta vez .

Foi instaurado um recolher obrigatório entre as 19h e 6h, anunciou Traoré. A capital, Ouagadougou, ficou literalmente a arder, depois de os edifícios da Assembleia Nacional, da câmara municipal e da sede do partido governamental terem sido incendiados por manifestantes furiosos com a possibilidade de uma revisão constitucional para prolongar o mandato do Presidente Compaoré.

Perante os apelos da oposição — que exige a saída do Presidente e lançou a ideia de uma campanha de desobediência civil —, os protestos na capital foram subindo de tom. Em 48 horas, a situação escalou do protesto para a violência e ficou descontrolada: informações contraditórias mencionavam a possibilidade de um golpe militar para a deposição do Governo de Compaoré e, simultaneamente, davam conta da intervenção do Exército em defesa do Presidente.

O jornal Le Monde falava em intensas negociações entre o partido no poder e na oposição, e também de consultas do Exército. O general Traoré terá pelo menos falado com Mogho Naba, o rei dos Mossi, uma autoridade tradicional muito respeitada no Burkina Fasso e da etnia à qual pertence o chefe de Estado, maioritária no país.

Mesmo antes de o general Traoré se pronunciar, ninguém conseguia dizer o que estaria em curso — uma revolução ou um novo golpe de Estado, semelhante ao que levou Blaise Compaoré ao poder, em 1987. O Presidente decretou o estado de emergência e dissolveu o Governo.

Ao início do dia, uma multidão enfurecida marchou, sobre a Assembleia Nacional, que ia votar a proposta de mudança da lei fundamental para abrir o caminho a uma nova candidatura de Compaoré, que foi a votos pela primeira vez em 1991. A polícia que fazia a segurança do Parlamento desmobilizou com a chegada dos manifestantes, que entraram, saquearam e incendiaram o edifício.

Os manifestantes ocuparam as estações de televisão e rádio públicas, que foram forçadas a suspender a emissão; destruíram automóveis de parlamentares e residências de ministros. A caminho do palácio presidencial, que foi cercado, os manifestantes foram destruindo e ateando fogo, incluindo ao hotel Azalai Independence, um dos pontos de encontro de governantes e diplomatas em Ouagadougou.

Ao fim da manhã, Blaise Compaoré fez uma primeira prova de vida através do Twitter, pedindo aos seus compatriotas que mantivessem a "calma e serenidade" — chegou a circular que saíra do país com a sua família. Ao mesmo tempo, o Governo anunciava que o decreto remetido ao Parlamento para mudar a Constituição tinha sido anulado e já não seria votado. Não ficou, porém, claro se se tratava de um adiamento ou se a proposta tinha sido abandonada, como exigiu a União Europeia e os Estados Unidos.

Segundo a BBC, cinco pessoas morreram nos protestos. A Reuters dizia que helicópteros estavam a sobrevoar a principal praça da capital, e a disparar gás lacrimogéneo para os dispersar.

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