Portugal é o único país da troika com o crescimento revisto em baixa pelo FMI

Fundo passa previsão de crescimento para Portugal de 1,2% para 1%, o mesmo nível esperado pelo Governo.

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O FMI liderado por Christine Lagarde está mais pessimista em relação à Europa e Portugal Chip Somodevilla/AFP

O Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu em baixa a sua previsão de crescimento para Portugal, assumindo que a economia nacional está a sofrer o impacto de um abrandamento generalizado no centro da Europa. Portugal é o único país entre os que foram sujeitos a um programa da troika a ficar agora com uma projecção de crescimento mais baixa do que a que tinha em Abril.

No relatório semestral sobre a economia mundial publicado nesta terça-feira, o FMI estima que o PIB português irá crescer 1% durante o ano de 2014. Em Abril, quando tinha apresentado a sua última previsão, o fundo apontava para um crescimento económico de 1,2%.

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A revisão acontece num cenário de correcção das projecções de crescimento da economia mundial e, em particular, da zona euro. Para o mundo, o FMI passou a prever um crescimento de 3,3%, menos 0,1 pontos do que em Julho, quando apresentou as suas projecções intercalares. Na zona euro, depois de em Julho já ter reduzido a previsão de crescimento 1,2% para 1,1%, o FMI tornou-se ainda mais pessimista, apontando agora para um crescimento de 0,8%.

O abrandamento da zona euro, onde estão os principais clientes das exportações portuguesas, é o principal motivo para a deterioração das estimativas para Portugal.

Mas se é verdade que, entre Abril e Outubro, a revisão em baixa feita em relação a Portugal é mais suave do que a que é feita para o total da zona euro, quando a análise é realizada apenas entre os cinco países que estiveram sujeitos a um programa da troika, o desempenho de Portugal é bastante menos positivo. Foi mesmo o único país com uma revisão em baixa do crescimento.

Na Irlanda e Espanha (que teve a troika a fiscalizar um programa de apoio ao seu sistema bancário) o FMI reviu em alta as projecções de crescimento. A Irlanda vai crescer 3,6% em vez dos 1,7% previstos em Abril e a Espanha 1,3% em vez de 0,9%.

No caso de Chipre, o último país onde a troika entrou, vive-se ainda uma situação grave de contracção da economia. Mesmo assim, em Abril previa-se uma recessão de 4,8% este ano, enquanto agora a queda esperada é de 3,2%. No caso da Grécia, o FMI manteve a mesma previsão de crescimento para este ano: 0,6%.

Nestes países, depois de anos de contracção económica acentuada, regista-se agora uma melhoria do ambiente, facilitado também pela descida das taxas de juro da dívida que se tem espalhado por toda a Europa.

O Governo português já tinha assumido que a economia cresceria a um ritmo mais lento. A previsão de crescimento feita pelo FMI fica agora exactamente ao mesmo nível da nova estimativa do Governo apresentada com a proposta de orçamento rectificativo e fica ligeiramente abaixo dos 1,1% projectados pelo Banco de Portugal (que deverá esta semana apresentar uma actualização da previsão). Para 2015, o fundo manteve a previsão de crescimento de 1,5%.

Em relação à balança com o exterior, o impacto do desempenho mais fraco da exportações portuguesas também se faz sentir, tendo o FMI baixado a estimativa de excedente externo para este ano de 0,8% do PIB para 0,6%. Em 2015, a mesma tendência: de 1,2% para 0,8%. 

Inflação a zero
Outro sinal de que o FMI vê uma evolução da actividade mais moderada em Portugal é o facto de estar a antecipar uma estagnação dos preços no país. O Fundo prevê agora que, no decorrer de 2014, a taxa de inflação fique a zero. Em Abril, previa 0,7%. A nova previsão do FMI compara com os 0,2% actualmente estimados pelo Banco de Portugal.

O risco de deflação na zona euro é uma das principais preocupações apresentada pelo fundo no seu relatório. A seguir à Grécia, onde se antecipa um recuo de 0,8% nos preços, Portugal é a par de Chipre o país com a previsão de inflação mais baixa para este ano. Ainda assim, no seu cenário central, o fundo confia que, em 2015, com a aceleração do crescimento, a variação de preços em Portugal regresse para níveis mais normais, de 1,1%.

Onde as previsões melhoraram significativamente face a Abril foi no mercado de trabalho. Da mesma forma como a troika foi surpreendida, no início do programa, com uma subida do desemprego acima do previsto, agora falha sucessivas previsões para a descida do mesmo indicador.

Apesar de o crescimento económico ser mais fraco do que o esperado, a taxa de desemprego prevista pelo FMI é agora de 14,2% em 2014 e de 13,5% em 2015, uma revisão em baixa face às anteriores projecções de 15,7% e 15% respectivamente. Para 2014, o Governo está a apontar para um valor idêntico ao do FMI.

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