Rússia considera cessar-fogo ucraniano “ultimato” e não “convite à paz”

“Falta um dos principais elementos — uma proposta para iniciar negociações”, afirma Moscovo. Obama e Hollande admitem “novas medidas contra a Rússia”.

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Poroshenko em Slovianogirsk, onde formalizou proposta de cessar-fogo Reuters

O governo de Moscovo considera o cessar-fogo anunciado nesta sexta-feira pela Ucrânia como um ultimato aos separatistas pró-russos do Leste do país. A Rússia exige também um pedido de desculpas por “um disparo” feito de território ucraniano sobre um posto fronteiriço, que feriu um funcionário aduaneiro russo.

“Uma primeira análise mostra, infelizmente, que não é um convite à paz e a negociações, mas um ultimato aos revoltosos do sudeste da Ucrânia para que deponham as armas”, comentou o serviço de imprensa da presidência russa, citado pelas agências noticiosas do país, pouco depois de ter sido anunciado o cessar-fogo unilateral pelo Presidente ucraniano, Petro Poroshenko. “Falta um dos principais elementos — uma proposta para iniciar negociações”, acrescentou.

“Hoje, 20 de Junho, o cessar-fogo entrará em vigor. Durará até 27 de Junho”, disse o Presidente da Ucrânia em Slovianogirsk, a cerca de três dezenas de quilómetros de Slaviansk, na sua primeira visita ao Leste desde que tomou posse, a 7 de Junho. O cessar-fogo deveria começar às 22h locais (20h em Portugal Continental).

“É [tempo] mais do que suficiente para lançar o processo de desarmamento [e] começar a criar uma zona tampão ao longo da fronteira entre a Rússia e a Ucrânia”, disse Poroshenko, aludindo a duas das medidas do seu plano de paz anunciado nesta sexta-feira.

O plano de paz para o Leste da Ucrânia foi discutido telefonicamente na noite de quinta-feira entre os Presidentes ucraniano e russo.

Quanto ao incidente em que ficou ferido o funcionário aduaneiro, “a parte russa espera uma explicação e desculpas”, anunciou o Kremlin, que manifestou o seu protesto.

Obama e Hollande admitem "novas medidas"

Os presidentes da França e dos Estados Unidos, François Hollande et Barack Obama, que entretanto falaram ao telefone, voltaram a invocar a possibilidade de “novas medidas contra a Rússia”, caso a tensão não diminua no Leste da Ucrânia – informou, num comunicado, esta sexta-feira, a presidência francesa.

As "medidas" não foram imediatamente especificadas mas poderiam passar por um agravamento das sanções contra indivíduos e instituições do género das que foram aplicadas à Rússia e a dirigentes ucranianos devido à anexação da Crimeia pela Rússia e ao levantamento separatista no Leste da Ucrânia.

Satisfeitos com o plano de paz de Poroshenko e com a trégua de uma semana por ele anunciada, os dois dirigentes entendem que o Presidente russo, Vladimir Putin, deve “apelar o mais depressa possível aos grupos armados separatistas para cessarem as suas acções militares” e reforçar o controlo da fronteira.

Os Estados Unidos, pela voz da porta-voz do Departamento de Estado Jennifer Psaki, acusaram também a Rússia de ter voltado a deslocar tropas russas para perto da fronteira, de onde as retirou há semanas, e de concentrar material militar no sudoeste para apoiar os separatistas do Leste da Ucrânia.

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