Soares apoia Costa e acusa liderança de Seguro de mal se identificar com o PS

Mário Soares vê em António Costa o líder do partido "do punho erguido à esquerda e dos socialistas que não têm medo de ser tratados por 'camaradas'".

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Soares com Costa em 2013, quando recebeu o prémio de Personalidade do Ano da Associação de Imprensa Estrangeira em Portugal Nuno Ferreira Santos

Mário Soares, fundador do PS, acusou nesta quinta-feira o actual líder do partido, António José Seguro, de protagonizar um estilo de liderança que não suscita a adesão dos eleitores, que pouco tem a ver com a identidade do partido e que peca pelo excesso de fulanização — o ex-chefe de Estado chega a chamar a este PS o “Partido de Seguro”.

Por tudo isto, Soares declara apoio a António Costa, com um elogio que também inclui uma crítica: afirma que a disponibilidade agora manifestada pelo autarca de Lisboa para liderar o PS “foi um acto de grande coragem que faz esquecer as hesitações do passado”.

Em artigo de opinião enviado nesta quinta-feira ao PÚBLICO, Mário Soares começa por voltar a analisar os resultados das europeias de 25 de Maio, para reiterar que os portugueses rejeitaram os partidos da coligação de Governo, mas também manifestaram “uma preocupante indiferença face ao partido liderado por António José Seguro”.

“Faltou, neste caso, uma corrente de confiança dos eleitores em relação a uma liderança que, ao longo dos tempos, mal se tem identificado com a própria identidade do PS. O excesso de fulanização do candidato a primeiro-ministro não convenceu o eleitorado. O secretário-geral do PS (referência que quase sempre procura evitar) deve, pois, saber retirar as consequências da falta de adesão dos eleitores a um estilo nada identificado com o povo. Daí a convicção tão generalizada que com o Partido de Seguro que a direita e o Presidente da República e mesmo a troika não desistem de procurar captar o povo não pode contar”, analisa Soares.

Insistindo que a “grande vitória” anunciada por Seguro “foi uma vitória de Pirro”, defende que aquela proclamação “não pode deixar de desagradar aos socialistas a sério que tenham uma ambição para lá de ganhar eleições — a ambição de dar a Portugal uma alternativa de esquerda, coerente e credível. Que tristeza, se assim não for, para um partido com as responsabilidades do PS”, comenta.

Mário Soares faz uma declaração de apoio inequívoca a António Costa, que já vê como futuro líder dos socialistas: “Acho que nos vai fazer permitir que o nosso querido PS, do punho erguido à esquerda e dos socialistas que não têm medo de ser tratados por 'camaradas', se mobilize para construir um futuro diferente”.

Apelando à mobilização em torno de António Costa, Mário Soares promete ajudar a elegê-lo, num cenário de eleições internas antecipadas, ressalvando que o seu “é apenas um voto entre todos os socialistas”.

Congresso sim, secretaria não
Em todo o caso, é um voto que Soares deseja ter oportunidade de depositar em breve. O antigo líder socialista defende que os militantes devem ser chamados, “no mais curto prazo, a pronunciar-se de forma aberta e democrática, em congresso, nas escolhas que o partido precisa fazer". "A natureza livre do PS sempre o levou a nunca resolver os problemas políticos na secretaria”, sublinha.

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