Marine Le Pen desafia Nigel Farage na luta pela chefia dos eurocépticos europeus

A francesa e o britânico estiveram em Bruxelas a aliciar possíveis aliados para um grupo no Parlamento Europeu.

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Harald Vilimsky, do austríaco FPÖ, Marine Le Pen, da da francesa Frente Nacional, e Geert Wilders, do holandês PVV, em Bruxelas Georges Gobet/AFP

Quem vai ser o principal eurocéptico de Bruxelas? Nigel Farage, que tem co-liderado o grupo Europa Liberdade e Democracia, ou Marine Le Pen, que com o holandês Geert Wilders tenta estabelecer uma aliança concorrente depois da recusa de Farage em juntar-se ao grupo da extrema-direita francesa?

Em Bruxelas, Marine Le Pen deu esta quarta-feira uma conferência de imprensa para dizer que não tem “qualquer preocupação com a existência” de um grupo de extrema-direita. “As combinações possíveis são consideráveis”, disse, sem revelar os contactos que fez. “O princípio de uma negociação exige discrição”, concluiu.

Já do lado de Nigel Farage, soube-se que houve um almoço com Beppe Grillo, o líder do Movimento 5 Estrelas em Itália, mas não houve conferências de imprensa.

Apesar de em número de deputados haver espaço para dois grupos, a barreira está no número de nacionalidades necessárias – sete. E se é muito importante para estes partidos ter um grupo para financiamento e influência, também é importante evitar certas associações – partidos como o neonazi Aurora Dourada da Grécia deverá ser evitado tal como foi o Jobbik da Hungria.

Para já, Marine Le Pen e Geert Wilders contam com partidos como o Bloco Flamengo belga, o FPÖ austríaco e a Liga Norte, que até agora integrou o grupo de Farage. Com mais dois países, seria formado um grupo.

Farage teria vantagem por ter já um grupo estabelecido, mas deverá perder aliados. Primeiro, para Le Pen – não só a Liga Norte de Itália, como um antigo presidente da Lituânia. Segundo, para o grupo Conservadores e Reformistas formado pelo primeiro-ministro britânico David Cameron: o Partido do Povo da Dinamarca (anti-imigração), que vendeu as eleições no país, e o Finlandeses (antigo Verdadeiros Finlandeses, anti-política de resgates aos países da crise) procuram mais respeitabilidade e prefeririam juntar-se a Cameron; resta saber se este os aceita, porque enfrentará riscos se se associar a partidos que já manifestaram laivos racistas. O grupo perdeu ainda um deputado ultranacionalista eslovaco (que, lembra o Financial Times, disse uma vez que os ciganos mereciam “um longo chicote num quintal pequeno”) que não foi reeleito.

As notícias sobre o almoço de Farage e Grillo aumentaram a especulação de que o UKIP, que quer a saída do Reino Unido da UE, e o 5 Estrelas, que quer a saída da Itália do euro, se possam associar. Também os alemães da Alternativa para a Alemanha (AfD, anti-política de resgates e por um euro em menos países) consideram juntar-se a este grupo.

Actualmente, Le Pen e Wilders formam com o bloco flamengo e o FPÖ uma aliança com base em Malta e que já lhes permite receber fundos do PE (quase 400 mil euros por ano). Mas um grupo político seria diferente, tanto em financiamento (chegando a um a três milhões de euros por ano) como sobretudo em influência nas questões a discutir e na agenda até à participação nas comissões. E ambos querem este poder para, como anunciaram na constituição desta aliança, “destruir por dentro o monstro de Bruxelas”.

O grupo de Farage não usou muito deste poder de influência. Os eurocépticos foram o grupo menos participativo no Parlamento cessante. Segundo o estudo Conflicted Politicians – the populist radical right in the European Parliament, de Marley Morris, especialista em direita populista do centro de estudos britânico Counterpoint Institute, não houve relatórios revelantes, e nem em propostas de alterações de legislação o grupo teve grande sucesso: em 65 propostas, apenas duas foram aprovadas: uma da Liga Norte pedindo mais indicações do país de origem de alguns produtos importados de países terceiros, e outra em relação ao tempo de resposta do Presidente ou do secretário-geral aos eurodeputados.

O que os populistas têm feito, diz Heather Grabbe, da Open Society. ao Financial Times, é usar o Parlamento Europeu “como um canal de YouTube gigante” para os seus discursos (e alguns acabam mesmo por ser populares no site de vídeos, como o de Farage a dizer que Herman von Rompuy tem “o carisma de uma esfregona”). “A “grande mudança” será se começarem realmente a tentar participar nos trabalhos do Parlamento. “Esse será um jogo completamente diferente”, notou.

Com os partidos pró-União Europeia a dominarem 70% do Parlamento, o número de eurocépticos não será o suficiente para realmente aprovar medidas extremistas, mas a sua participação poderá passar das longas intervenções de alguns deputados para estratégias mais organizadas de dificultar os trabalhos.

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