Brasil teve em 2012 a maior taxa de homicídios desde 1980

Número de pessoas assassinadas aumentou 7,9% de 2011 para 2012 e atingiu o valor mais elevado das últimas décadas. País vive “equilíbrio instável”, com avanços nuns estados e recuos noutros.

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Policiamento no Rio de Janeiro. Nuns estados a situação melhora, noutros piora CHRISTOPHE SIMON/AFP

José Alfredo Vasco Tenório estava a começar o passeio diário de bicicleta à beira-mar quando, a 400 metros de casa, foi abordado por dois rapazes. Ao interromper a marcha foi atingido a tiro. Morreu no local, em Maceió. Casos como o deste médico, de 67 anos, contribuíram para o que o Brasil tivesse registado em 2012 um número recorde de 56.337 assassínios e a mais alta taxa de homicídios desde 1980.

Os dados divulgados esta terça-feira pelo jornal O Globo constam da nova versão do Mapa da Violência que será lançado nas próximas semanas com informações que vão até 2012 e confirmam os elevados índices de violência no país.

O número de pessoas mortas naquele ano representa um acréscimo de 7,9% face a 2011. A taxa de homicídios, que tem em conta o crescimento populacional, também aumentou 7% sobre o ano anterior e chegou aos 29 assassínios por cada cem mil habitantes. Nos últimos dez anos a taxa subiu 2,1%.

“Não se pode dizer que o ano de 2012 seja uma tendência, mas é preocupante. As acções pontuais na área da segurança estão mostrando os seus limites. Sem reformas sociais que mexam no sistema penitenciário e no modelo obsoleto de polícia civil e militar, não conseguiremos resolver o problema. E aí, sim, a tendência vai ser alta”, disse ao jornal o autor do estudo, o sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz.

O estudo é feito anualmente a partir do Sistema de Informações de Mortalidade do Ministério da Saúde, o qual tem como fonte as certidões de óbito emitidas em todo o Brasil. Desde que, em 1980, este mecanismo de recolha de informação começou a produzir dados os valores globais nunca tinham sido tão elevados.

“As nossas taxas são 50 a 100 vezes maiores do que a de países como o Japão. Isso marca o quanto ainda temos de percorrer”, disse o autor do Mapa da Violência. O Brasil, acrescentou Waiselfisz, vive um “equilíbrio instável”, com avanços nalguns estados, mas retrocessos noutros.

De 2011 para 2012 as taxas de homicídio diminuíram em cinco estados – Alagoas, Paraíba, Pernambuco, Espírito Santo e Rio de Janeiro. As quebras menores foram as do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, com 0,3% e 0,4%, respectivamente. A mais expressiva, com uma diminuição de 10,4%, foi a do estado de Alagoas, que tem como capital Maceió, onde foi morto José Tenório. Líder da violência e cobaia do plano Brasil Mais Seguro, Alagoas registou entre Janeiro e Abril deste ano 820 assassínios contra 765 no mesmo período de 2013.

A maior subida de 2011 e 2012 ocorreu em São Paulo, com 11,3%, mas a sua taxa de homicídios no estado é ainda a segunda menor do país, observa O Globo. Porém, olhando para a década que vai de 2002 a 2012, o balanço paulista é positivo – queda de 60%. No caso do Rio, a descida naquele período de dez anos foi de 50%. Estes dados levam Júlio Jacobo Waiselfisz a avaliar de modo positivo as medidas de segurança adoptados nos últimos anos nos dois importantes estados.

O sociólogo chama também a atenção para uma migração da violência das capitais para o interior – uma ideia sustentada pela quebra de 20,9% das taxas de homicídio em capitais e grandes municípios entre 2003 e 2012 acompanhada do crescimento de 23,6 % nos municípios mais pequenos.

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