Greve da Valorsul pode deixar 19 concelhos sem recolha de lixo entre segunda e quinta-feira

O presidente da Câmara de Loures promove esta quinta-feira uma sessão pública destinada a "lançar uma campanha contra a privatização" da empresa.

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Câmara quer impedir o Estado de alienar o capital maioritário da Valorsul, através da privatização da EGF João Henriques/Arquivo

Os 19 municípios da Área Metropolitana de Lisboa e da Região Oeste servidos pela Valorsul estão à procura de soluções para fazer frente à greve de quatro dias marcada para a próxima semana. Sindicatos, autarcas e a própria empresa admitem que existe o risco de a recolha de resíduos nesses concelhos não se poder fazer entre segunda e quinta-feira.

A greve, decretada pelo Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Centro, Sul e Regiões Autónomas (SITE) e pelo Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa, vai decorrer entre a meia-noite de dia 17 de Março e a meia-noite de dia 20. Alenquer, Alcobaça, Amadora, Arruda dos Vinhos, Azambuja, Bombarral, Cadaval, Caldas da Rainha, Lisboa, Loures, Lourinhã, Nazaré, Óbidos, Odivelas, Peniche, Rio Maior, Sobral de Monte Agraço, Torres Vedras e Vila Franca de Xira são os concelhos servidos pela Valorsul, que emprega cerca de 400 pessoas. 

“Não podemos recolher os resíduos se não houver onde depositá-los”, sublinha o presidente da Câmara de Loures, acrescentando que “é evidente” que esta greve terá “um forte impacto” junto da população. Bernardino Soares acrescenta que está a ser preparada uma campanha de informação, na qual será pedido aos munícipes “que contenham o mais possível a deposição de resíduos” na via pública.

Já o vereador da Higiene Urbana da Câmara de Lisboa frisa que os 19 municípios, que nos últimos meses se têm pronunciado a uma só voz contra a anunciada privatização da empresa, estão “a tentar concertar soluções” que permitam enfrentar a paralisação. Entre elas, adianta Duarte Cordeiro, está a procura de locais alternativos aos tradicionais para a deposição dos resíduos, por forma a permitir que a sua recolha seja possível.

O SITE, pela voz de Navalha Garcia, não tem dúvidas de que os receios manifestados pelos autarcas têm razão de ser. O dirigente sindical destaca que o risco de o lixo se acumular nas ruas durante quatro dias será ainda maior na Região do Oeste, já que aí a recolha dos resíduos recicláveis é feita não pelas câmaras municipais, mas sim pela Valorsul.

“O cenário pode ou não ser verdadeiro, em função da adesão à greve”, reage a directora de comunicação da Valorsul. “Só vamos saber na segunda-feira”, acrescenta Ana Loureiro.

Outro factor a ter em conta será, admitem os diversos intervenientes neste processo, a dimensão dos serviços mínimos, que até ao fim da tarde desta quarta-feira ainda não tinham sido estabelecidos.

Navalha Garcia explica que na origem desta paralisação estão um conjunto de “cortes” já realizados nos direitos dos trabalhadores, incluindo nos seus salários e no pagamento do trabalho suplementar, mas também a anunciada privatização da Empresa Geral do Fomento (EGF), que assegura a gestão dos sistemas de tratamento e valorização de resíduos através de 11 empresas concessionárias, entre as quais a Valorsul.

O SITE não aceita a entrega a privados de “uma empresa que é altamente rentável, de um sector importante e que presta um serviço público junto de 19 municípios”. Navalha Garcia considera que essa operação pode vir a traduzir-se numa redução de postos de trabalho e num aumento das tarifas praticadas.

Esses receios são partilhados pelo presidente da Câmara de Loures, que convocou para as 18h desta quinta-feira uma sessão pública, no Centro Cultural de Moscavide, destinada a “lançar uma campanha contra a privatização da Valorsul”. “O objectivo é chamar a atenção para a convergência das populações, dos trabalhadores e de todos os municípios na rejeição da intenção do Governo”, explicou Bernardino Soares ao PÚBLICO. 

 O autarca comunista garante acreditar que, dada essa convergência, será ainda possível travar a saída da EGF da esfera pública. “Está-se a tornar cada vez mais insustentável para o Governo avançar como pretende fazer”, diz Bernardino Soares, acrescentando que continua em cima da mesa a hipótese de os municípios, entre os quais estão vários do PSD, avançarem com uma ou várias acções junto dos tribunais.

Em Dezembro o Conselho Metropolitano de Lisboa aprovou, por unanimidade, uma posição conjunta rejeitando a privatização não só da Valorsul mas também da Amarsul, que serve os municípios de Setúbal, Alcochete, Almada, Barreiro, Moita, Montijo, Palmela, Seixal, Sesimbra e Setúbal. No passado mês de Fevereiro, foi a vez de a Câmara de Lisboa aprovar, com os votos contra do PSD e do CDS, uma moção condenando os planos do Governo para a EGF.  

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