Poetry Slam enche de poesia e performance 11 cidades portuguesas

O "Há Poetry Slam no quiosque" no âmbito do PortugalSLAM! vai na 3ª edição e o evento final realiza-se em 28 de Junho na LX Factory.

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O poetry slam já se espalhou por todo o país e no ano passado ocorreu a primeira competição nacional, no Musicbox Nuno Ferreira Santos/Arquivo

Um microfone, meia dúzia de textos e vontade para escrever poesia. São estes os ingredientes necessários para rechear de criatividade o fim de um dia de trabalho, no Quiosque da Time Out, localizado em frente ao metro dos Restauradores. No passado dia 26 de Fevereiro realizou-se a 3ª edição do Poetry Slam em Lisboa, organizada pela plataforma PortugalSLAM!, com o objectivo de divulgar o evento final, com os finalistas das 11 cidades envolvidas.

Amadora, Angra do Heroísmo, Almada, Aveiro, Braga, Coimbra, Lisboa, Matosinhos, Ponta Delgada, Porto e Sines são as cidades concorrentes à final do Poetry Slam, que se vai realizar a 28 de Junho na LX Factory. Da comissão fazem parte 12 elementos.

Eram 18 horas e 20 minutos quando Sérgio Coutinho, membro da organização do Poetry Slam em Lisboa, chamava os clientes do quiosque ao microfone. A música da aparelhagem já soava. O objectivo era apelar aos transeuntes para a expressão dos seus “eu”. “Acordei mal disposto”, “o meu patrão é uma grande besta”, “a minha ex-namorada deixou-me”, são exemplos de que Sérgio fala. Há espaço para a política, o amor, a comédia ou para outro género de temas. O que interessa mesmo é dizer o que vai na alma de cada um.

“Ser poeta é ser mais baixo”, foi um dos poemas recitado pela dinamizadora do Poetry Slam em Almada, Raquel Lima, que deu voz no fim da tarde da quarta-feira da semana passada. Esta não é uma provocação ao poema da autoria de Florbela Espanca “Ser Poeta” mas sim uma abordagem alternativa.

Cerca de 30 pessoas escutavam, sentadas nas cadeiras da esplanada do quiosque, os poemas que eram recitados, inicialmente pelos mentores do projecto e, alternadamente, por um ou outro voluntário que era chamado ao acaso. O frio que se fazia sentir não demoveu o entusiasmo dos espectadores.

O quiosque e a organização do Poetry Slam beneficiam deste género de acções. O primeiro está interessado em obter uma maior dinamização cultural. “Faz sentido ter uma panóplia de diferentes áreas, desde música, à performance, ou poesia, para eles é uma forma de manter um público interessado e que acaba por consumir durante o tempo em que está no quiosque”, refere Raquel Lima.

Um aplauso à poesia
Poetry é poesia em inglês, e slam é onomatopeia de barulho. Este é um conceito livre, onde se pode usar “uma linguagem que se quer em qualquer estilo, em qualquer forma e não há um formato slam nem deve haver”, explica Sérgio Coutinho.

O conceito nasceu em Chicago, durante os anos 80, pela voz de Mark Kelly Smith. As regras da competição estão relacionadas com o tempo que Smith, enquanto operário, tinha para escrever durante os tempos livres. “Uma das regras do Poetry Slam é as pessoas terem três minutos para dizerem o poema”, explica Raquel Lima. Relativamente ao conteúdo, “os poemas têm de ser originais e os temas não podem ser discriminatórios”.

Numa acção do Poetry Slam “à séria”, os poemas têm de ser sempre da autoria de quem os lê e as pessoas devem ter três poemas, porque existem três rondas. Os participantes são, no mínimo, seis com idades iguais ou superiores a 16 anos.

Numa primeira ronda participam seis “poetas”, na segunda passam a quatro e na final ficam dois. O slammer – a pessoa que recita os poemas - tem de saber interagir com o público e saber dar corpo aos textos.

“1,2,3 Slam!”
Uns mais tímidos e outros mais confiantes. Todos são convidados a pegar no microfone para declamar os poemas da sua autoria ou para ler outros fornecidos pelos elementos da organização. É adoptado o jogo do “quantos-queres” para quem não tem temas e não há desculpas para não participar.

Joana Avi-Lorie, estudante de arquitectura e poetisa em part-time, acredita que esta é uma iniciativa inovadora porque recupera um “pouco o conceito de que se pode falar de tudo, da comédia, da tragédia, de problemas sociais, numa caixinha em que toda a gente pode entrar.”

Aquilo que sente quando pega no microfone é uma alegria imensa por estar a partilhar uma “extensão” de si. “Vejo que há ali pessoas que realmente querem ouvir e inspirar-se daquilo que nós temos para dizer”, afirma sorridente. Estas iniciativas vêm valorizar a escrita, dado que cada vez mais há uma “escrita supérflua e descaracterizada” numa altura em que “toda a gente é escritor”. O objectivo de eventos do género é “dar a conhecer a pessoa e o seu trabalho.”

Na página do Portugal Slam podem consultar-se os eventos que estão já agendados para este mês: no dia 8 de Março, vai realizar-se o 21.º em Coimbra; no dia 15 de Março, o sétimo em Braga e o sexto LabIO Slam, em Lisboa. A 21 de Março, acontece o 13.º no Sul. 


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