Manifestantes pró-russos tomam edifícios governamentais no Leste da Ucrânia

Insurreições em regiões de influência russa na Ucrânia alimentam receios de que Moscovo possa avançar militarmente.

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Manifestação em Donetsk, no sábado. "Região de Donetsk com a Rússia", lê-se num cartaz Alexander Khudoteply/AFP

Depois da Crimeia, é agora o Leste da Ucrânia que começa a revelar sinais de revolta contra o novo poder em Kiev. O edifício do parlamento regional de Donetsk foi ocupado esta segunda-feira por um grupo de manifestantes pró-russos.

Desde sábado que na sede do parlamento está içada uma bandeira russa, colocada durante uma manifestação que juntou cerca de dez mil pessoas, segundo a AFP. As pessoas recusam-se a reconhecer a autoridade do novo governo de transição.

Uma nova acção de protesto nesta segunda-feira terminou com a ocupação do edifício e com os manifestantes a exigirem que os dirigentes regionais se recusem a obedecer ao novo governador da província. Em Odessa (Sul da Ucrânia), o cenário repetia-se, segundo um correspondente da BBC.

Donetsk é uma das cidades mais importantes da Ucrânia. Trata-se da capital da região do Donbass, onde estão situadas algumas das mais relevantes explorações mineiras. A cidade é das que contam com uma das populações de russos étnicos mais elevadas da Ucrânia. O Presidente deposto, Viktor Ianukovich, é um dos filhos da terra e, para grande parte dos seus habitantes, continua a ser o Presidente legítimo.

Nos últimos dias têm sido frequentes os protestos em várias cidades do Leste do país. No sábado, uma manifestação em Kharkov causou dezenas de feridos quando grupos de russos étnicos entraram em confrontos com simpatizantes dos novos governantes.

No domingo, o Presidente interino, Oleksander Turchinov, nomeou Sergei Taruta para governador da região de Donetsk, a mais populosa do país. Taruta é o dono da União Industrial do Donbass e a sua indicação é vista como uma tentativa de Kiev acalmar as tensões no Leste da Ucrânia. E, sobretudo, que o cenário que se vive actualmente na Crimeia seja alargado a outras regiões.

A possibilidade de que, depois de controlar a Crimeia, a Rússia avance militarmente para outras regiões do Sul e Leste da Ucrânia não é totalmente afastada. A ordem aprovada pela câmara alta do Parlamento russo que deu autorização ao Presidente Vladimir Putin para colocar as Forças Armadas na Crimeia fazia referência ao “território da Ucrânia”. A expressão deixa em aberto uma possível expansão da actividade militar russa dentro da Ucrânia.

A emergência de movimentos pró-russos noutras regiões do Leste da Ucrânia pode abrir caminho a novas incursões militares. “No próximo fim-de-semana, poderemos muito bem ver tropas russas a patrulhar Kharkov e Donetsk, e elas não irão embora nos próximos tempos”, escreve Josh Cohen no The Moscow Times.

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