A Norte há algo de novo

"O tempo revelará o grau de convicção destas palavras, ditas com um hálito democrático a que já ninguém estava habituado"

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1. As estações de monitorização da qualidade do ar do Litoral Norte ainda não detectaram o fenómeno, mas começa a ser perceptível que o ambiente na região se desanuviou e que, a certos níveis, se respira indubitavelmente melhor.

Tem tudo a ver com o ciclone das últimas autárquicas. Para já, nota-se que o Porto cresceu para lá das fronteiras norte e sul, sem que, paradoxalmente, conste que Matosinhos e Gaia se contraíram. Pelo contrário, a Frente Atlântica do Porto agora criada pelos três municípios contíguos, para desenvolverem projectos e candidaturas a fundos comuns, deixou a todos maiores.

Em rigor a Frente ainda não conseguiu nada: só o renovar da promessa, já antiga, de sediar no Monte da Virgem o canal 2 da RTP. Mas trouxe a reboque as seis universidades públicas do Norte e Centro, a Fundação de Serralves, a Associação Empresarial Portuguesa, numa onda que retira margem de recuo à RTP e à tutela. E o Norte sabe como é raro unir-se.

Esta vaga pró-RTP 2 gerada pela Frente Atlântica sugere que ela poderá ser útil e eficaz. A Frente já demonstrou que os três municípios mais importantes da região (falta a Maia, com o aeroporto), não estão condenados a viver de costas voltadas, reféns das simpatias e antipatias pessoais dos seus autarcas. Que nunca mais se percam fundos comunitários, como sucedeu no caso da Circunvalação.

É verdade que a criação da Frente Atlântica não faz muito pelo Conselho Metropolitano (CM), ao qual disputa influência política. E que o presidente da Câmara do Porto já desprestigiara o CM, ao afirmar que o município mais importante da Área Metropolitana não estava interessado em liderá-lo. A questão é saber se o independente Rui Moreira conseguiria fazê-lo, se quisesse. É saber se os aparelhos do PSD e do PS alguma vez lho permitiriam. Nesse sentido, a Frente Atlântica é uma consequência das altas pressões político-partidárias a que a Área Metropolitana está sujeita.

A chegada da Frente Atlântica ainda pode ser positiva para todos. Basta que o princípio da subsidiariedade nas alianças municipais seja aplicado com critério. Com uma sintonia mais fina, ver-se-ia que a bandeira da RTP2 até devia ser erguida pelo CM, e não apenas pela Frente Atlântica. Oxalá, vencido o ciúme, o CM se sinta obrigado a emular a dinâmica da Frente. E que, assim, obrigue a Câmara do Porto (que faltou ao último CM) a cumprir os deveres metropolitanos.

2. Na última Assembleia Municipal do Porto, Rui Moreira anunciou que a revista Porto Sempre, generosamente paga com dinheiro dos munícipes para proveito e glória de Rui Rio, está suspensa para redefinição. Moreira acrescentou que não quer uma "comunicação municipal totalitária" e prometeu que a oposição e as críticas ao executivo também terão lugar nos meios de comunicação camarários. Ninguém reagiu. Só o tempo revelará o grau de sinceridade e convicção destas palavras que, em todo o caso, foram ditas com um hálito democrático a que já ninguém estava habituado.
 
 
 

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