“Para mim, um dia bom era anularem, esquecerem isto”

Os dois professores inscreveram-se na prova por obrigação, para se poderem candidatar, mas, como os ânimos aqueceram na Escola Padre António Vieira, em Lisboa, acabaram por não fazer o exame.

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Enric Vives-Rubio
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Sérgio Azenha
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O despertador de Pedro Fernandes, professor contratado de 39 anos, tocou às 7h15 nesta quarta-feira. Acordou com sono, anda cansado. É final de período, altura de avaliações e este docente está a dar aulas no agrupamento de escolas do Carregado. Não estava nervoso com a parte comum da Prova de Avaliação de Conhecimentos e Competências que tinha pela frente, mas sentia “raiva”.

“Ontem tive aulas o dia todo”, desabafa, depois de ter tomado um café para despertar. Nem teve tempo, nem cabeça, nem vontade de se preparar para a prova. E também não sentiu necessidade. Pedro Fernandes, que tirou Gestão Hoteleira e está a dar aulas aos Cursos de Educação e Formação, tem também uma licenciatura da Escola Superior de Educação Jean Piaget, em Vila Nova de Gaia, que lhe permite dar aulas de Educação Visual e Tecnológica ao primeiro e segundo ciclo.

Por 70 dias não ficou isento de realizar o exame. Apesar de dar aulas há sete anos, como o faz de forma intermitente e com horários incompletos, não conseguiu somar cinco anos e ser dispensado. É um professor com a “casa às costas”, já passou por Sines, Tavira, Portalegre, Oeiras, Sintra, entre outros sítios: “Já tive alturas em que paguei para trabalhar. Precário e nómada define bem o que é ser professor contratado”, diz.

Pedro Fernandes acabou por se inscrever na prova, apenas para se poder candidatar no próximo ano lectivo: “Ainda hoje de manhã me passou pela cabeça desistir, não me apetecia nada, já fiz tantas provas e tenho reuniões de avaliação para preparar”, sublinha. Antes de entrar para a sala, admitia que o que mais desejava era que o Ministério da Educação e Ciência desistisse do exame: “Para mim, um dia bom era anularem, esquecerem isto. Se me dissessem que tinha de fazer uma prova quando acabei o curso, aceitava. Agora, depois de estar a dar aulas há sete anos é que me vêm dizer isto?”, questiona.

Apesar de ter ido à Escola Secundária Padre António Vieira, em Lisboa, acabou por não fazer a prova, devido à agitação que tomou conta do local. “Não me conseguia concentrar”, justificou, frisando que achou a prova “grande, mas acessível”.

À porta, havia um grupo a apelar ao boicote, que conseguiu entrar na escola, mas sem aceder ao bloco onde decorria a prova. Lá dentro, segundo relatos de professores, terá havido salas sem luz, pessoas a dizer que se sentiam mal, respostas dadas em voz alta, docentes a protestar. A confusão não terá permitido que a maior parte fizesse a prova nesta escola.

Pelas mesmas razões, também Miguel Reis, 35 anos, acabou por não fazer o teste naquela escola. Licenciado em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa com média de 16, deu aulas durante três anos, mas neste ano não conseguiu colocação.

Está a dar apoio a alunos num centro de estudos privado: “É um sintoma do que se está a fazer à escola, enfraquecer a escola pública e apoiar o privado”, resume, adiantando que não se preparou especialmente para a prova, que acabaria por não fazer. “Até posso ter 20, a minha perspectiva de dar aulas no ensino público é remota”, lamenta.
 

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