Atingido novo recorde de temperatura mínima na Terra: 93,2 graus Celsius negativos

A 10 de Agosto de 2010, a temperatura nos planaltos do Leste da Antárctida atingiu menos quatro graus do que o anterior recorde histórico.

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O fenómeno ocorre no interior da Antárctida Pete Bucktrout e John SmelIie/B. Antarctic Survey

Num dia sem nuvens no meio do Inverno sempre escuro da Antárctida, imagine-se uma massa de ar muito fria a descer uma colina de gelo e a instalar-se num buraco, onde, dia após dia, vai arrefecendo ainda mais, até se atingirem os 93,2 graus Celsius negativos. Foi isso que aconteceu a 10 de Agosto de 2010, em que, segundo as leituras de satélites, se bateu o recorde da temperatura mais baixa registada na Terra.

Este fenómeno pode ocorrer ao longo de 1000 quilómetros no Leste da Antárctica, entre o cume Argus e o cume Fuji, que definem uma extensa cordilheira de montanhas. A cúpula do Argus está a 4000 metros de altitude, a do Fuji, mais a noroeste, está a 3800 metros de altitude. Estes picos e esta cordilheira fazem parte do grande Planalto do Leste da Antárctica.

“Sempre suspeitámos de que esta cordilheira da Antárctica fosse extremamente fria, mais fria do que Vostok [a estação russa] porque fica a uma maior altitude”, diz Ted Scambos, cientista do Centro Nacional de Dados da Neve e do Gelo dos Estados Unidos (NSIDC, sigla em inglês), citado num comunicado da NASA. A estação russa Vostok, que está a 3488 metros de altitude, registou o anterior recorde mínimo de temperatura da Terra em 1983: 89,2 graus Celsius negativos. O recorde mundial de temperatura mais alta foi atingido a 10 de Julho de 1912 na localidade norte-americana de Greenland Ranch, na Califórnia, no Vale da Morte,  onde os termómetros chegaram aos 56,7 graus Celsius. Na Terra, entre o frio de rachar da Antárctida e o calor do Vale da Morte há uma amplitude térmica de quase 150 graus.   

Ted Scambos fez parte da equipa da NASA e dos Serviços Geológicos dos Estados Unidos, que apresentou os novos resultados na segunda-feira na conferência da União Geofísica Americana, em São Francisco. “Com o lançamento do Landsat 8, tivemos finalmente um sensor capaz de investigar aquela área com mais detalhe”, explicou o cientista.

O Landsat 8 é um satélite da NASA que foi lançado em Fevereiro de 2013 e, devido à sua resolução, ajudou a identificar os locais onde foram feitas leituras de temperatura por outros satélites da NASA e da NOAA, a agência para o mar e a atmosfera dos Estados Unidos. No conjunto, descobriu-se que estas temperaturas mínimas aconteceram em vários buracos, em zonas mais baixas do planalto, que surgem por contracção do gelo submetido a temperaturas extremamente baixas. Estes buracos têm 5 a 10 quilómetros de extensão e dois a quatro metros de profundidade.

No Inverno na Antárctida é sempre noite. O que se passa, segundo os cientistas, é que nesses dias de Inverno sem nuvens, o ar junto ao solo em pontos mais altos do planalto irradia calor para o espaço. Apesar de este ar já ser frio, esta perda de calor faz baixar ainda mais a temperatura desta camada que está junto ao solo. Este arrefecimento torna esta camada de ar mais densa, o que faz com que desça para zonas mais baixas do planalto, podendo alojar-se nos buracos. Se o céu continuar desimpedido de nuvens, este ar frio acumulado nos buracos ainda irradia mais energia e a sua temperatura desce ainda mais, batendo os recordes registados pelos satélites.

Até os pulmões podem congelar
“Quando o ar fica parado durante grandes períodos de tempo, enquanto continua a irradiar calor para o espaço, obtêm-se as mais baixas temperaturas que somos capazes de encontrar”, diz Ted Scambos. “Suspeitávamos de que íamos encontrar um local mágico onde estava extremamente frio, mas o que encontrámos foi uma larga faixa da Antárctida a grandes altitudes que atinge frequentemente estas temperaturas recordes.”

Não se sabe como o corpo humano reagiria a este frio inominável. As temperaturas mais baixas atingidas no Hemisfério Norte estão bastante acima deste valor: 62 graus negativos no Alasca, 68 negativos no Norte da Ásia ou 75 negativos na Gronelândia. Sabe-se que as pessoas conseguem sobreviver pelo menos durante três minutos a 73 graus negativos.

“Nunca estive em temperaturas tão baixas e espero nunca vir a estar”, diz Ted Scambos, num comunicado do NSIDC. “Disseram-me que cada respiração é dolorosa e tem de se ter um cuidado extremo para que não gele parte da garganta ou dos pulmões quando se inspira.”

Notícia actualizada às 16h34 de 10 de Dezembro de 2013 com o valor do recorde de temperatura máxima mundial.
 
 

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