Padre do Fundão guardava foto sua vestido de mulher em poses eróticas

Acórdão do Tribunal do Fundão conhecido integralmente apenas esta quinta-feira.

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Cinco internos do Seminário Menor do Fundão afirmaram ter visto padre na cama de colegas, debaixo dos lençóis PAULO PIMENTA

O antigo vice-reitor do Seminário Menor do Fundão, que foi condenado esta semana a dez anos de prisão por 19 crimes de natureza sexual sobre menores, guardava no seu computador pessoal uma fotografia sua vestido de mulher, em poses eróticas.

Esta foi uma das imagens encontradas pela Polícia Judiciária no portátil do sacerdote, a par de outras fotos do pároco com ex-seminaristas “em trajes menores”, em “tronco nu”, com “chantili” e “na cama”.

A informação consta no acórdão do Tribunal do Fundão, um documento com mais de 80 páginas, cuja cópia só foi disponibilizada pelos juízes esta quinta-feira. Na segunda-feira, os magistrados optaram por ler apenas uma súmula da decisão.

Ao tribunal Luís Mendes, de 37 anos, desvalorizou as imagens encontradas no seu computador pessoal, afirmando que se tratavam de praxes, realizações teatrais habituais e de convívios com alunos. Uma tese contrariada por um outro padre, que era o orientador espiritual e confessor dos internos do Seminário Menor do Fundão, incluindo dos cinco rapazes que denunciaram os abusos sexuais.

No resumo do depoimento do padre Vítor Sousa, que faz parte do acórdão, diz-se que o sacerdote foi confrontado com as fotos, tendo afirmado que nenhuma correspondia a praxe em que tivesse participado ou assistido. Sobre a imagem de Luís Mendes vestido de mulher considerou tratar-se de uma fotografia de foro “particular”, já que quando o arguido se vestia de mulher em peças de teatro os vestidos não eram tão curtos. Reconheceu ainda “alguma malícia” nas imagens que viu.

Avaliação diferente teve uma professora do externato de Tortosendo, onde o padre dava aulas de Religião e Moral que foi testemunha da defesa. A docente achou as fotos normais e disse ter assistido a praxes similares. Várias professoras da instituição foram a tribunal defender o pároco, tendo alegado muitas delas que os internos que denunciaram os abusos eram mentirosos.

Dos 17 jovens que viviam no seminário no ano lectivo 2012/2013, cinco terão sido vítimas do padre e outros dez testemunharam, para memória futura, tendo metade referido que viu o padre a meter-se na cama de colegas por baixo dos lençóis. Os outros relataram os desabafos das vítimas, as circunstâncias e os locais em que tal ocorreu.

O padre reconheceu em tribunal ter-se deitado na cama de alguns dos menores, mas garantiu que ficava “com o rabo de fora” e nunca se descalçava.

Alguns dos seminaristas falaram ainda de um plano que os internos tinham (mesmos os que não eram vítimas) para tentar obter provas do comportamento do padre, tentando gravar com um telemóvel abusos cometidos pelo sacerdote.

Na matéria de facto dada como provada, são descritos ao pormenor os abusos que passavam por convencer os menores a tocarem-lhe nos órgãos genitais e a masturbarem-se mutuamente. No caso de uma das vítimas a relação sexual foi consumada.

Os magistrados transcrevem na decisão o relatório social do padre, no qual se diz que Luís Mendes vive confinado à Casa da Acção Católica, uma instituição da diocese da Guarda, não tendo actualmente despesas, porque “as necessidades básicas [são] asseguradas pela Igreja”. O documento descreve a vida do pároco desde a infância, referindo que Luís Mendes viveu com a família apenas até aos nove anos. Até ao 9.º ano foi interno de um colégio privado de cariz religioso, na Guarda, e a partir daí no seminário, tendo sido ordenado sacerdote em 2001. 
 
 
 
 

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