Uma centena de suspeitos de crimes de guerra identificados no Reino Unido

Maioria dos casos, detectados em pouco mais de um ano, são de pessoas a viver há vários anos no país. Activistas querem que justiça britânica os julgue quando a deportação não é possível.

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Entre os suspeitos há vários implicados no genocídio do Ruanda, em 1994 Antony Njuguna/Reuters

As autoridades britânicas identificaram, em pouco mais de um ano, quase uma centena de suspeitos de crimes de guerra a viver no Reino Unido, segundo dados a que a BBC teve acesso.

Segundo a emissora britânica, a maioria dos suspeitos residem há vários anos no país e só foram identificados porque submeteram aos serviços de imigração pedidos de asilo ou renovação de vistos. São oriundos de países como o Ruanda, Afeganistão, Sérvia, Sri Lanka ou Iraque.

O Ministério do Interior, a quem a BBC requisitou os dados ao abrigo das leis de acesso à informação, assegura que tem desenvolvido esforços para que o Reino Unido “não se transforme num refúgio para criminosos de guerra”. Mas várias organizações de direitos humanos acusam as autoridades de falta de transparência e insistem que os casos detectados sejam comunicados à justiça para que, sempre que a extradição seja impossível, os suspeitos sejam julgados no Reino Unido.

De acordo com os dados a que a BBC teve acesso, só entre Janeiro de 2012 e Março deste ano, o Ministério do Interior investigou 800 pessoas por suspeita de estarem envolvidos em atrocidades cometidas em cenários de conflito e emitiu 99 “recomendações contrárias” a pedidos de cidadania, asilo ou autorização para deixar o país. Destes casos, três foram de pessoas que acabaram por ser deportadas, 20 viram o pedido de asilo recusado e 46 viram ser-lhe negado passaporte britânico, admitindo-se que continuem a viver no país.

A estes dados, recorda a estação, juntam-se informações de que outros 700 suspeitos de crimes de guerra ou crimes contra a humanidade foram identificados pelos serviços de imigração entre 2005 e 2012. Desconhece-se quantos estarão a viver no Reino Unido ou quantos poderão ter sido entretanto extraditados.

A notícia surge depois de o Governo britânico ter anunciado, na sequência do longo processo para a deportação do pregador radical Abu Qatada para a Jordânia, formas de agilizar a expulsão de pessoas que representem um risco para a segurança do país – casos que esbarram muitas vezes no princípio de que a extradição não pode ocorrer quando exista o risco de o visado ser sujeito a tortura ou não ter direito a um julgamento justo. É o caso de cinco ruandeses detidos em Maio deste ano e acusados de envolvimento no genocídio de 1994, quatro dos quais evitaram em 2009 a extradição depois de um tribunal superior ter decidido que não havia garantias de que lhes fosse feita justiça no seu país de origem.

O activista James Smith disse à BBC que, nestes casos, a obrigação das autoridades é julgar os suspeitos no país. “Há custos e é difícil investigar crimes que ocorreram há muito tempo noutro país. Mas se não levar adiante estas acusações, o Reino Unido pode tornar-se conhecido como lar de terceira idade de criminosos de guerra”.

Notícia corrigida às 14h32: Corrige-se data do genocídio do Ruanda, ocorrido em 1994. 
 
 

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