Média do exame de Português iguala pior resultado de sempre

Média nacional ficou-se pelos 8,9 numa escala de 0 a 20, tal como em 2011. Ministério não diz se há diferença nas notas dos alunos que não fizeram exame a 17 de Junho devido à greve de professores.

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A prova de Português é obrigatória para todos os alunos do 12.º ano Daniel Rocha

Foi Ricardo Reis ou o próprio Pessoa que desta vez “tramou” os alunos do 12.º ano? A questão, para já, não tem resposta, uma vez que o Ministério da Educação e Ciência optou por não separar os resultados dos dois exames realizados nesta 1.ª fase na sequência das perturbações geradas com a greve geral de professores.

O certo é que a média nacional divulgada nesta quinta-feira pelo MEC, que junta as duas provas, empata com o pior resultado obtido neste exame — 8,9 (numa escala de 0 a 20). Foi esta a média obtida também em 2011.

Na altura, o director do Gabinete de Avaliação Educacional (Gave), Hélder de Sousa, atribuiu o desastre a um maior nível de exigência que se traduziu por uma alteração da tipologia dos itens do grupo relativo à gramática, que deixaram a partir de então de ser de escolha múltipla. Para além desta mudança, que levou a uma quebra de sete pontos por comparação com o ano anterior, os alunos também se confundiram com outro dos heterónimos de Pessoa, Álvaro de Campos.

O PÚBLICO está à espera de respostas do MEC sobre a nova descida nos resultados dos exames. Também já requereu ao ministério que as médias sejam apresentadas em separado para a prova de 17 de Junho e de 2 de Julho, a data escolhida pelo ministério para a realização do exame de Português pelos alunos que não o puderam fazer no primeiro dia devido à greve dos professores. 

Os alunos de quatro escolas em que se registaram protestos no dia 17 também puderam repetir a prova no dia 2. No dia 17, realizaram a prova de Português 56.878 alunos; no dia 2 de Julho, compareceram 13.755. A prova de Português é obrigatória para todos os alunos do 12.º ano.

Dos 70.807 que realizaram os exames, 50.127 eram alunos internos, ou seja, frequentaram as aulas até ao fim e só puderam apresentar-se à prova porque tiveram uma classificação interna igual ou superior a 10. Mas no exame a média destes alunos não foi além de 9,8, contra os 10,4 registados em 2012. A média dos 20.680 alunos externos, que se propuseram como autopropostos depois de terem anulado a matrícula, foi de 6,7.

No conjunto, a percentagem de negativas subiu para 55%. Ou seja, mais de metade dos alunos chumbaram no exame, o que não quer dizer que tenham reprovado à disciplina, já que o resultado destas provas apenas conta 30% para a classificação final dos alunos. Feita esta ponderação, a taxa de reprovações a Português subiu de 8% para 10%, a mesma também registada em 2011.

“A percepção com que fiquei, depois de falar com professores classificadores, é que na zona de Braga o primeiro exame estava pior do que o segundo”, indicou ao PÚBLICO uma professora de Português de Barcelos.

Diogo Madruga, presidente da Associação de Estudantes da Escola Secundária de Camões, em Lisboa, foi um dos alunos que só conseguiu fazer exame no dia 2, mas depois de ter visto as pautas na sua escola diz que não é possível estabelecer uma fronteira entre as notas dos que fizeram a 17 e as dos de dia 2.

“Houve quem tivesse piores notas no primeiro exame, mas também houve quem se saísse pior no segundo”, conta, acrescentando que na sua escola a tendência foi para que umas e outras fossem “fracas”. 

Problema de equidade
No dia 17, muitos dos alunos que conseguiram realizar a prova classificaram-na como fácil, uma ponderação que pesou entre aqueles a quem foi dada a possibilidade de anular este exame para o poder realizar de novo no dia 2. Pais, alunos e professores consideraram então que o facto de o exame não ter sido feito no mesmo dia por todos os alunos punha irremediavelmente em causa a equidade entre estes. 

O ministro Nuno Crato garantiu, na altura, que esta se encontrava garantida porque as provas elaboradas pelo Gave são equivalentes no nível de dificuldade. A presidente da Associação de Professores de Português (APP), Edviges Ferreira, considerou na altura que as provas tiveram um grau de dificuldade semelhante.

Para além de Ricardo Reis, no exame de dia 17 os alunos foram também questionados sobre Alberto Caeiro. Já no exame de dia 2, as questões de interpretação versaram sobre um dos poemas da Mensagem de Fernando Pessoa e o Memorial do Convento de José Saramago.

No seu parecer ao exame de dia 17, a APP chamava a atenção para o facto de algumas das questões de interpretação não apresentarem “a objectividade que deve existir em provas de exame, o que poderá levar a respostas que remetam para cenários diversos”. Também no grupo II, relativo à gramática, uma das questões podia “levar a uma resposta que não está de acordo com os critérios de correcção”.

Já no que respeita à prova de dia 2, a presidente da Associação Nacional de Professores, Paula Carqueja, apontava para uma maior dificuldade no tema proposto para a composição. Pedia-se aos alunos que elaborassem uma reflexão sobre “a importância da crença no progresso para o desenvolvimento civilizacional”. No exame de dia 17, o tema proposto foi o do “papel dos jovens enquanto agentes de transformação da sociedade”.

As médias dos outros exames realizados pelos alunos do 11.º e 12.º ano foram divulgadas ontem. Os resultados de hoje confirmam um cenário de desastre, com médias negativas em 12 das 19 provas realizadas, entre elas as que, com Português, são as mais concorridas deste nível de ensino. Física e Química A voltou a ter o pior resultado, com uma média de 7,8. Seguem-se-lhe, entre as mais concorridas, Biologia e Geologia, com 8,1, e Matemática A, com 8,2. Em todas estas disciplinas, as médias dos alunos internos também se ficaram pela negativa.

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