Aveiro procura novo modelo de gestão para relançar a bicicleta gratuita

A BUGA foi "vítima do sucesso que alcançou" e "a utilização anónima foi desresponsabilizante”, conclui coordenador do projecto.

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A BUGA foi lançada pela Câmara de Aveiro em 1998 e alcançou grande notoriedade Fernando Veludo/Arquivo

Os sucessos e insucessos da Bicicleta de Utilização Gratuita de Aveiro (BUGA), projecto lançado pela câmara em 1998, foram debatidos nesta quinta-feira num seminário internacional com especialistas em mobilidade.

No encontro, organizado no âmbito do projecto “Smart Travelling in Atlantic Cities - Smart Integrated Ticketing for Europe” (SITE), José Quintão, que coordenou a criação das BUGA, apontou o vandalismo e dificuldades de manutenção como fragilidades que têm condicionado as bicicletas gratuitas de Aveiro.

“A BUGA conquistou uma enorme notoriedade e ficou conhecida em todo o lado, sendo o primeiro projecto do género em Portugal e um dos pioneiros a nível europeu de bicicletas partilhadas, mas nem tudo correu bem. Foi vítima do sucesso que alcançou, pois houve dificuldade em entendê-la como equipamento urbano e a utilização anónima foi desresponsabilizante”, afirmou.

De acordo com as explicações de José Quintão, ao contrário dos receios que havia na época, o carácter gratuito não conduziu a um número de furtos significativo, porque o seu desenho exclusivo, além de dissuasor, levou à rápida localização dos veículos em falta, muitas vezes mediante alerta de populares. Foram as avarias e deficiências de material, mas sobretudo actos de vandalismo e má utilização das bicicletas que fizeram com que o projecto fosse perdendo vitalidade. Pelo meio ficou um estudo de trajectos e estações, que agora se pretende retomar.

A deterioração das vias e da sinalética e a eliminação das estações já montadas levaram a que o que foi concebido como meio de mobilidade urbana acabasse, nos dias de hoje, por se limitar à utilização para passeios de lazer. Apenas se mantém em funcionamento uma estação de entrega de bicicletas, mediante identificação, para evitar os actos de vandalismo que acrescentaram a dificuldade de reposição à já difícil gestão e financiamento do projecto.

“A câmara, enquanto entidade pública, não tinha vocação, por exemplo, para a exploração publicitária das bicicletas. Não dispunha de angariadores de publicidade e, mesmo quando uma empresa manifestava interesse em colocar publicidade, as regras da contratação pública dificultavam o processo”, observou José Quintão.

A Câmara de Aveiro está, por isso, a trabalhar no relançamento da BUGA em novos moldes e à procura de um modelo de gestão adequado, partilhando experiências com os parceiros do projecto SITE. Os objectivos estão traçados: recolocar a bicicleta como parte do sistema de mobilidade urbana e equipamento da cidade, procurando encontrar para a BUGA um sistema de gestão inovador, baseado na informação em tempo real, que permita interagir não só com os transportes públicos, como também com o comércio local, a cultura e os espectáculos.
 
 
 
 
 

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