Assad diz que a Europa vai “pagar” por armar rebeldes

Cimeira do G8 vai debater a guerra síria, mas uma posição comum será muito difícil de alcançar.

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Cameron recebeu Putin na véspera do início da cimeira Suzanne Plunkett/Reuters

No dia em que os líderes dos oito países mais industrializados do mundo se reuniram na Irlanda do Norte para discutir a Síria, o Presidente Bashar al-Assad quis dizer aos europeus que “pagarão o preço” de armarem os rebeldes que combatem o seu regime.

“Se os europeus fornecerem estas armas, o quintal da Europa vai tornar-se [terreno de] terrorismo e a Europa vai pagar o preço”, diz Assad nos excertos divulgados de uma entrevista que será publicada na terça-feira no jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung. “Os terroristas vão ganhar experiência em combate e regressar com ideologias extremistas”, diz ainda o Presidente sírio, nas suas primeiras declarações desde que a Casa Branca admitiu dar apoio militar à oposição, na quinta-feira.

Os Estados Unidos mudaram de posição, explicando que o fazem por terem provas de que o regime sírio usou armas químicas, ainda que em “pequena escala” – a “linha vermelha” que a Administração de Barack Obama traçara no ano passado. Mas ainda não foi dito claramente que serão enviadas armas. “É uma situação muito incerta e o Presidente pensa que é necessário consultar os líderes do G8 sobre que tipo de apoio devemos dar à oposição”, disse Ben Rhodes, vice-conselheiro de Obama para a Segurança Nacional.

Antes do G8, Barack Obama já discutiu o assunto numa videoconferência com o primeiro-ministro britânico, David Cameron, o chefe do Governo italiano, Enrico Letta, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o Presidente francês, François Hollande. Fora da conversa ficou o líder que tem as posições mais distantes de Obama, e com o qual o Presidente norte-americano se vai encontrar esta segunda-feira ao final do dia, Vladimir Putin.

Na véspera do início da cimeira, Putin descreveu os rebeldes sírios como “pessoas que não só matam os seus inimigos como comem os seus órgãos em público diante das câmaras”, em referência a um vídeo conhecido em Maio onde um rebelde sírio punha na boca um pedaço de pulmão de um soldado morto. “Queremos apoiar estas pessoas? Queremos fornecer armas a estas pessoas?”, perguntou Putin à saída de um encontro com Cameron, onde defendeu a decisão russa de continuar a vender armas a Assad, “líder legítimo” dos sírios.

Em cima da mesa voltou a estar também a possibilidade de impor uma zona de exclusão aérea na Síria que proteja deslocados e civis em fuga, ajudando em simultâneo os rebeldes, que, no último mês, perderam cidades e estradas estratégicas para as forças de Assad. A França diz que só avançará nesse sentido com um mandato do Conselho de Segurança, cenário impossível por causa do prometido veto da Rússia.

Enquanto se discute armar as forças da oposição, Cameron diz querer “fazer pressão” para que o G8 dê um impulso à moribunda conferência de paz que Washington e Moscovo se comprometeram a organizar, e que deveria sentar frente a frente regime e oposição ainda este mês.

Alguns dos presentes – para além dos EUA e da Rússia, integram o G8 a Itália, a França, a Alemanha, o Canadá e o Japão – não esperam unanimidade em nenhum ponto que diga respeito à Síria. “Penso que não deve haver demasiadas ilusões, não é aqui, no G8, que vamos encontrar a solução”, disse Hollande. “Não sejamos ingénuos”, afirmou o primeiro-ministro canadiano, Stephen Harper. “A menos que Putin mude radicalmente de posição, não teremos posição comum no G8.”
 
 

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