Pai de Passos Coelho assegura que filho “está morto por se ver livre disto”

António Passos Coelho confessa que nunca quis ver o filho no mundo da política e que vão "fazer uma festa" quando ele sair do Governo.

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Passos Coelho em Maio de 2011 durante a campanha para as legislativas Nelson Garrido

António Passos Coelho, pai do actual primeiro-ministro, diz que não encarou bem a entrada do filho no mundo da política e que o alertou para as dificuldades. Agora, ao fim de dois anos de legislatura, o pai de Pedro Passos Coelho assegura que o filho “está morto por se ver livre disto” e que vão “fazer uma festa” quando sair do Governo.

Em declarações ao jornal i, António Passos Coelho reconhece que “temos de viver em austeridade, não há volta a dar” e que “toda a gente acha que isto está mau”. “Nunca gostámos que ele fosse para onde foi, porque a ideia cá em casa, na família, é que isto não tem conserto. Há muitos anos, não é de agora.”

Quase a fazer 87 anos, médico reformado, o pai do primeiro-ministro foi também presidente da distrital do PSD de Vila Real e responsável pelos primeiros contactos do líder do executivo com a política, ainda em 1978. Só que agora a situação do país piorou e “a classe média é que está a pagar isto”, sublinha António Passos Coelho, reconhecendo que tem de se “ir buscar onde há”, mas que “a cortar, a cortar” qualquer dia não sabe como vai viver da sua reforma.

António Passos Coelho adiantou que durante a campanha eleitoral das legislativas avisou o filho: “Vais-te lixar.” Na altura não disse tudo o que pensava, mas agora revela o que lhe passava pela cabeça. “Toda esta gente que está aqui vai vaiar-te. Agora estão aqui todos contigo, mas daqui a um ano vão vaiar-te. Não disse isto porque parecia mal na altura”, recorda.

"Sabe Deus o que ele passa"
Mas o pai de Passos Coelho garante que o primeiro-ministro está consciente das dificuldades impostas aos portugueses. “Julgam que o meu filho não sabe? Coitado, sabe Deus o que ele passa. Está morto por se ver livre disto. A gente vai fazer uma festa, cá na família, quando ele se vir livre disto."
Quanto ao líder do partido da coligação, Paulo Portas, António Passos Coelho descreve-o como “um moço inteligente, um moço sobredotado” e defende que os líderes dos partidos muitas vezes não fazem o que querem mas sim “aquilo que são obrigados a fazer”.

Em relação ao secretário-geral do PS, António José Seguro, considera que se tem esforçado por ultrapassar “um problema chato”. É que “agradar a Deus e ao Diabo é difícil”, diz, acrescentando que “está a contar muito com a Europa e esquece-se da figura que fez o Presidente francês, Hollande. Também ia com muita coragem, mas é evidente que as coisas saíram furadas”.

Por tudo isto, o médico antevê maus resultados para o PSD nas autárquicas. Ainda assim, assevera que Pedro Passos Coelho está consciente disso e que não é esse factor que o vai levar a sair do Governo, até porque sabe que com a sua saída poderão vir medidas de austeridade ainda piores para o país devido à descredibilização internacional.

Entretanto, em Bruxelas, Pedro Passos Coelho recusou comentar as declarações do seu pai.

“Não vou comentar o meu pai”, afirmou o primeiro-ministro numa conferência de imprensa no âmbito da mini-cimeira europeia sobre evasão fiscal e energia.

Notícia actualizada às 17h40. Acrescentada declaração de Passos Coelho em Bruxelas.
 
 

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