Anúncio da Dove sobre beleza feminina torna-se o mais visto no YouTube

Vídeo, que o português Hugo Veiga ajudou a criar, faz parte de uma campanha da marca para alterar a concepção de beleza feminina.

Anúncio da Dove corre o mundo

Um anúncio da marca de cosméticos Dove que já tinha merecido elogios, críticas e paródias online tornou-se o vídeo publicitário mais visto no YouTube, de acordo com a empresa Unruly, que mede o impacto deste tipo de vídeos online.

O vídeo da Dove ultrapassou os 119 milhões de visualizações. Segundo a tabela da Unruly, que é feita em parceria com o site de informação Mashable, o vídeo é também o terceiro mais partilhado (atrás de um anúncio da Volkswagen e de um da versão belga do canal TNT). Tem mais de 3,7 milhões de partilhas no Facebook, no Twitter e em blogues.

O vídeo, com o título "Real Beauty Sketches" (que pode ser traduzido por “desenhos de beleza verdadeira”) mostra um desenhador profissional a desenhar o rosto de várias mulheres, sem as ver e apenas pela descrição que as próprias fazem. De seguida, desenha o mesmo rosto a partir da descrição feita por terceiros. O vídeo passa a mensagem que da descrição de terceiros resulta o desenho de um rosto mais bonito. O anúncio, de três minutos, conclui: “Você é mais bonita do que pensa”.

O anúncio é parte de uma campanha da Dove já com vários anos e que pretende afastar o conceito de beleza feminina dos estereótipos de juventude e elegância frequentemente veiculados pelos media. Um dos vídeos conhecidos desta campanha é o de uma modelo cujo rosto é muito alterado com recurso a Photoshop depois da sessão fotográfica, resultando numa imagem muito diferente da fotografada.

Real Beauty Sketches recebeu elogios, mas também (tal como o resto da campanha da Dove) foi alvo de críticas.

Uma das linhas de argumentação contra a estratégia da marca, defendida, por exemplo, neste artigo da revista americana New York Magazine, observa que a Dove está a remeter a auto-valorização das mulheres para o conceito de beleza estética, mesmo que esta seja apresentada como mais alargada do que o habitual. “O objectivo não deveria ser fazer as mulheres focarem-se no facto de sermos todas deslumbrantes à nossa maneira”, escreve a autora do artigo. “Devia ser sobre as mulheres a fazerem por si próprias aquilo que desejamos que a cultura em sentido mais alargado fizesse: avaliarmo-nos uns aos outros com base na inteligência e perspicácia e sensibilidade ética, e não apenas com base nas nossas caras e corpos”.

Outra das críticas feitas ao vídeo aponta que a descrição feita por terceiros (que não conheciam as mulheres retratadas antes de participarem no vídeo) é favorável por uma questão de simpatia ou de educação. O anúncio também já foi alvo de paródias online, uma da quais mostra homens a auto-descreverem-se, resultando no desenho de personalidades como George Clooney.

Contactado por email pelo PÚBLICO, Hugo Veiga, um português radicado em São Paulo que trabalha como redactor na agência Ogilvy e que ajudou a conceber o vídeo, contra-argumenta: “A marca não diz que a mulher se deve preocupar com sua beleza. Afirma sim, que a mulher deve valorizar a sua beleza natural e não se cobrar tanto”. O objectivo é “provar que as mulheres são mais bonitas do que pensam. ”

Hugo Veiga também discorda das críticas sobre os constrangimentos de descrever outras pessoas, que poderiam levar a um desenho mais favorável. “Não creio que boa educação fosse um ponto que tenha desvirtuado a experiência. Os terceiros fizeram uma descrição sem interferência emocional. Eles descreveram o que viram. Já as mulheres, foram mais auto-críticas na sua descrição.”

Sugerir correcção
Comentar