Estudo sugere que Terra pode aquecer mais devagar

Ritmo de aumento da temperatura pode ser menor nas próximas décadas, mas termómetros chegarão a níveis elevados a longo prazo.

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Sem medidas mais eficazes de controlo, CO2 na atmosfera pode duplicar até meados deste século Reuters

A Terra poderá aquecer a um ritmo menor do que se previa no médio prazo, mas ainda assim atingirá níveis elevados a longo prazo, conclui um estudo publicado na revista Nature Geoscience.

O estudo, envolvendo 17 cientistas de oito países, faz novas projecções sobre o que poderá acontecer no futuro, levando em conta os dados mais recentes sobre o aquecimento global. Depois de uma forte subida desde a década de 1970, a curva de crescimento da temperatura média global tem estado num patamar mais estável na última década. Ainda assim, segundo a Organização Meteorológica Mundial, todos os 12 anos entre 2001 e 2012 estão entre os 13 mais quentes desde cerca de 1850, data a partir da qual há registos fiáveis.

Partindo dos dados actuais e também dos últimos 40 anos, os investigadores avaliaram um cenário hipotético no futuro, associado à duplicação da concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, em relação aos níveis pré-industriais. Neste tipo de exercício, comum em estudos sobre as alterações climáticas, procura-se determinar a chamada “temperatura de equilíbrio” – ou seja, a do momento em que o termómetro teoricamente pára de subir, algo que só ocorre muito depois de a concentração de CO2 ter estabilizado. Mas também se determina uma temperatura intermédia, no instante em que a concentração de CO2 chega ao dobro – o que dá uma visão mais clara do ritmo de aceleração no curto e médio prazo.

Quando a concentração de CO2 chegar a 550 partes por milhão – contra os 275 da era pré-industrial –, o termómetro global terá subido entre 0,9 e 2,0 graus Celsius, com um valor mais provável de 1,3 graus, acima da média de há um século e meio. No longo prazo, também ao ritmo da última década, a temperatura subiria 1,2 a 3,9 graus. 

Segundo o estudo, os valores para o momento intermédio estão abaixo dos cenários mais gravosos que estão a ser obtidos por uma série de experiências com modelos climáticos que têm vindo a ser desenvolvidas nos últimos anos, num projecto internacional conhecido pela sigla CMIP5 (Coupled Model Intercomparison Project Phase 5). Para o prazo mais longo, os valores tendem, no entanto, a aproximar-se, embora haja ainda muitas incertezas.

“O possível aquecimento a longo prazo, após a estabilização [do CO2], permanece bastante incerto, mas para a maior parte das decisões políticas, a resposta nos próximos 50 a 100 anos é o que interessa”, afirma o autor principal do estudo, Alexander Otto, da Universidade de Oxford.

Um dos co-autores, Jochem Marotzke, do Instituto Max Planck para a Meteorologia, em Hamburgo, completa que não se deve dar um valor interpretativo excessivo a uma única década, dado o que se sabe e não se sabe sobre a variabilidade natural climática. “Na década passada, o mundo como um todo continuou a aquecer, mas o aquecimento ocorreu muito mais abaixo da superfície dos oceanos do que à superfície”, acrescenta.

Os resultados deste estudo surgem num momento em que o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, das Nações Unidas, está a finalizar a sua quinta avaliação do que se sabe sobre o presente e o futuro do clima na Terra. As conclusões serão apresentadas em Setembro e levarão em conta os cenários do CMIP5.

O último relatório do painel climático da ONU, divulgado em 2007, previa que uma duplicação da concentração de CO2 aumentaria a temperatura global em 1,9 a 4,4 graus Celsius. O nível de CO2 na atmosfera ultrapassou, este mês, a fasquia das 400 partes por milhão (ppm). Sem medidas mais eficazes para conter o aumento, a concentração pode chegar aos 550 ppm em meados deste século.

 
 
 
 

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