Marinheiros chineses deixam prateleiras vazias de leite em pó na partida de Lisboa

Tem havido um aumento na procura de leite em pó, na China.

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Houve ruptura de stock de leite em pó nalguns estabelecimentos Nicky Loh/Reuters

Os marinheiros dos navios de guerra chineses que estiveram nos últimos dias em Lisboa deixaram a capital nesta sexta-feira carregados de leite em pó para bebés, depois de uma corrida às lojas pelos marinheiros que esgotou o produto em vários locais.

“A procura em lojas da zona de Lisboa levou a que momentaneamente houvesse rupturas de stock. [Os marinheiros chineses] compraram em supermercados, áreas de saúde, farmácias e parafarmácias”, disse à agência Lusa Nuno Ribeiro, responsável de vendas da Nestlé. “Têm falta de produto lá [na China]. Vi talões de compra de 400 euros”, adiantou Ribeiro, que acompanhou um cliente numa venda directa de cerca de 200 latas, hoje carregadas nos navios chineses atracados no Jardim do Tabaco.

A China tem vivido uma sequência de escândalos de segurança alimentar, depois de em 2008 seis bebés terem morrido e outros 330 mil terem ficado doentes por ingestão de leite contaminado com uma substância tóxica.

A procura por leite de bebé importado aumentou nos últimos meses, havendo pessoas fora da China a enviar produtos para consumo dos familiares ou para os revender. No caso de Portugal, a China proíbe a exportação directa de leite e derivados, desde a crise das vacas loucas, situação que até agora os dois países não conseguiram resolver.

Segundo o responsável da Nestlé, a ruptura de stocks registou-se na quinta-feira nalgumas lojas, mas o mercado português “não ficou por abastecer”.

A farmacêutica Marta Ortet afirmou que, das três farmácias da sua empresa, o produto esgotou em duas (Baixa e Belém). Foi contactada quinta-feira ao final do dia para vender o restante stock e acabou por encomendar ao armazém “quantidades enormes” para satisfazer os clientes asiáticos. “Um comercial disse-me que também já tinham outras farmácias a pedirem mais leite. Tinham tido muitas a pedir mais nos últimos dias”, disse à Lusa.

“No início não estava muito segura do que estava a fazer. Vieram aqui à farmácia e fizeram pagamento no balcão. Em vez de levar duas, levaram 50, foi a primeira vez com esta quantidade”, adiantou. Contudo, a farmacêutica conhece relatos da passagem de outros navios chineses por Lisboa em que as prateleiras também ficaram vazias numa das suas farmácias.

Segundo uma outra fonte, as parafarmácias de grandes superfícies nalguns centros comerciais de Lisboa, nomeadamente no Parque das Nações, também tiveram ruptura de stock.

“Tinham facturas com eles de 500 a 800 euros”, disse a mesma fonte, que falou com alguns dos oficiais e marinheiros chineses.

Os três navios que compõem a 13.ª esquadra – duas fragatas, Huangshan e Hengyang, e o navio de abastecimento Qinghaihu – chegaram a Lisboa na segunda-feira para uma visita de cortesia, e zarparam na tarde desta sexta-feira.

Estiveram nos últimos quatro meses envolvidos em acções de combate à pirataria na Costa da Somália, com perto de 600 homens a bordo, e seguem agora para a França, antes do regresso à China.

Na segunda deslocação desta esquadra a Lisboa – a primeira foi em 2002 –, os oficiais mantiveram contactos com homólogos portugueses, responsáveis governamentais e apresentaram as operações antipirataria.
 

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