Trabalhadores da Casa da Música promovem acção de rua no dia 17 de Março

A Comissão de Trabalhadores vai levar a diferentes sítios do Grande Porto uma mostra das múltiplas actividades da instituição. É uma forma de protestar contra os cortes na dotação do Estado, que – alega a CT – podem pôr em risco a missão de serviço público.

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Casa da Música Manuel Roberto

A degradação das condições de trabalho, os atrasos no planeamento da programação e a incerteza quanto às reais possibilidades de a instituição poder continuar a cumprir a sua missão de serviço público face à intransigência do Estado em rever os cortes de 30% na sua dotação anual levaram a Comissão de Trabalhadores da Casa da Música a avançar com a realização de uma acção pública a alertar para a gravidade da situação.

 A iniciativa está agendada para o dia 17 de Março, domingo, cerca de uma semana antes da reunião do Conselho de Fundadores, que será decisiva para o futuro da Casa.

“Estamos numa situação em que as indefinições orçamentais, não só para 2014 mas também para os anos seguintes, colocam problemas sérios ao nível do que a Casa da Música poderá continuar a ser, e se poderá continuar a gerir-se pela bitola de exigência que tem seguido até aqui”, diz ao PÚBLICO João Ribeiro. Responsável pela Mediateca, este é um dos três membros da Comissão de Trabalhadores (CT), a primeira que foi constituída na Casa, e que foi eleita em Abril do ano passado.

Jean-Michel Garetti, músico (oboé) francês da Orquestra Sinfónica do Porto, outro membro da CT, diz que “muitas pessoas têm uma visão um bocadinho distorcida” do trabalho que se faz na Casa da Música. “Nós sofremos as consequências de três diabolizações: sermos uma fundação, uma parceria público-privada e uma instituição de criação artística”, nota André Quelhas, gestor dos agrupamentos residentes e o terceiro elemento da direcção da CT.

É para alterar esta visão que os representantes dos 194 trabalhadores (metade dos quais sendo músicos da Sinfónica) que actualmente preenchem o quadro da Casa da Música vão avançar com a jornada de 17 de Março. O programa está ainda em elaboração, mas o que é já seguro é que os diferentes agrupamentos da Casa vão espalhar-se por vários lugares públicos do Porto e do Grande Porto onde farão intervenções musicais e artísticas que mostrem a pluralidade da sua acção.

Será “uma espécie de show case” – adianta João Ribeiro – para mostrar e levar as pessoas a contactar com os projectos da Casa fora do ritual normal das idas aos concertos. Neste programa entrarão as estruturas residentes, mas outros músicos e criadores que normalmente se apresentam nas salas e outros espaços do edifício da rotunda da Boavista – “como a Orquestra de Jazz de Matosinhos e a Banda Sinfónica Portuguesa”, exemplificam os membros da CT – serão também convidados a participar na acção de 17 de Março.

O programa começará em diferentes sítios da cidade, com o objectivo de “criar um efeito de arrasto” das pessoas para o epicentro da iniciativa, que se desenrolará, no final, na praça fronteira ao edifício de Rem Koolhaas. É provável que haja palavras de ordem, sound bites e outras intervenções. “Queremos recolher testemunhos, que possam ser inscritos num mural, físico ou virtual”, que documentem a implantação da Casa no tecido social portuense e de todo o país, acrescenta João Ribeiro.

A decisão do Governo, anunciada no final do ano passado pelo secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, de cortar 30% – não só para 2013 mas já para esse mesmo ano – na dotação de dez milhões de euros estipulada por decreto-lei em 2006 motivou forte contestação por parte da administração e dos fundadores privados da Casa da Música. A primeira anunciou mesmo a sua demissão em bloco, e a sua substituição será um dos pontos na agenda do Conselho de Fundadores do dia 22 de Março.

No final do ano, realizou-se em volta do edifício “Um abraço pela Casa da Música”, uma primeira acção pública de protesto contra os cortes orçamentais.  
 

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