Não ouviremos mais o violino de Malaquias Costa (1925-2013)

O violinista que teve B. Leza como professor e que tocou com Cesária Évora era personalidade marcante da música cabo-verdiana

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O músico Malaquias Costa fotografado durante uma entrevista para a "Nós Genti" Pedro Matos / Revista Nós Genti Cabo Verde (2012)

O violinista Malaquias Costa, que aprendeu com gigantes como B. Leza ou Luís Rendall, que até eram guitarristas, que tocou com monstros da música de Cabo Verde como Cesária Évora ou Bana, morreu esta quinta-feira, depois de dois dias de internamento hospitalar. Tinha 87 anos.

A sua música não era a do estúdio, não era a das gravações. A sua música era a do palco, com o violino sempre preparado para acompanhar as mornas e coladeiras que fluíam noite fora nos bares e restaurantes do Mindelo. Não nascera ali, não era de São Vicente, mas foi ali, nesse verdadeiro centro musical chamado Mindelo, que se aprimorou enquanto um dos nomes grandes da música cabo-verdiana, veterano respeitado e de alegria contagiante que no último Carnaval ainda dançou e cantou com desenvoltura nos desfiles.

Nascido na Ribeira do Corvo, em Santo Antão, no dia de Natal de 1925, Malaquias Costa cresceu rodeado de música. Em entrevista publicada na revista Nós Genti em Setembro de 2012, recordou a casa cheia na sua infância, com o pai e amigos reunidos para tocar durante horas e horas madrugada dentro, e o fascínio pelos sons que ouvia. “Ao outro dia, costumava praticar sozinho, tentando reproduzir o que tinha ouvido”, contou: “Era algo de mágico”. Para além do pai, músico amador, tinha na vizinhança profissionais como o também violinista Muchim do Monte ou o mítico B. Leza.

Foi com a chegada a São Vicente, aos dez anos de idade, que a música se instalou definitivamente no seu percurso. Com o porto como ponto de passagem de navios de todo o mundo e com a curiosidade que tantos dos que por ali passavam mostravam pela rica tradição musical cabo-verdiana, Malaquias passa a complementar com a música o seu trabalho quotidiano como ajudante numa loja comercial ou, mais tarde, como barbeiro. Com o passar dos anos, o seu virtuosismo torna-o muito solicitado, tocando, recordava a Nós Genti, com Bana, Ildo Lobo, Manuel Novais, Celina Pereira, Ângela Maria, Mité Costa, Arlinda Santos, Lena Ferro ou Sãozinha Fonseca. De Cesária Évora, que acompanhou nos bares do Mindelo, mas também em Miss Perfumado (1992), álbum de consagração definitiva da "diva dos pés descalços", recorda a “experiência enriquecedora” que era acompanhá-la durante as horas, muitas horas, que ela quisesse cantar.

Malaquias Costa não editou qualquer álbum em nome próprio, mas deixou a sua música espalhada, por exemplo, em compilações. Mais que isso, inscreveu o som do seu violino na memória e na história cabo-verdianas e mostrou-o depois ao mundo nas muitas digressões que cumpriu na sua longa vida. Uma história que “Malacas”, alcunha pela qual era conhecido, resumiu de forma tão sucinta quanto certeira. Assim: “Vivi em pleno a minha paixão pela música”.
 
 
 

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