Portas da discoteca onde morreram 231 pessoas fechadas tempo de mais

A maioria das vítimas tinha menos de 30 anos e morreu asfixiada ou esmagada. A tragédia foi provocada por um engenho pirotécnico usado por uma banda, os Gurizada, que actuava no recinto fechado.

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Este incêndio foi a segunda maior tragédia do Brasil Germano Roratto/Reuters
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Vista exterior da discoteca onde tudo aconteceu Edison Vara/Reuters
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Polícia está a investigar se as portas foram abertas como deveriam Tarsila Pereira/Correio do Povo/AFP
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Bombeiros enquanto tentavam combater as chamas Germano Roratto/Reuters
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Apoio às vítimas começou no local Germano Roratto/Reuters
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Familiar de vítimas do incêndio chora a sua perda Edison Vara/Reuters
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Familiares tiveram apoio enquanto aguardavam pela identificação das vítimas Edison Vara/Reuters
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Trabalhadores de uma funerária transportam uma das muitas vítimas mortais Edison Vara/Reuters
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Dentro da discoteca decorria uma festa de universitários Germano Roratto/Reuters
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A Presidente do Brasil dirigiu-se ao país na sequência da tragédia. Dilma estava no Chile mas encurtou a viagem Roberto Stuckert Filho/Presidência do Brasil/Reuters
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Flores depositadas junto ao edifício Ricardo Moraes/Reuters
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A rua em que se situa a discoteca, quando ainda havia fumo a sair do interior do edifício Germano Roratto/Reuters

Eram duas e meia da madrugada de domingo quando as chamas começaram na discoteca Kiss, na cidade universitária de Santa Maria, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Segundo as testemunhas, o vocalista de uma das bandas que actuava ao vivo activou um engenho pirotécnico. As faíscas atingiram o tecto. Segundo o jornal Zero Hora, em três minutos as chamas tomaram todo recinto, provocando o pânico entre os jovens — 500 segundo alguns relatos, entre mil e 2000 de acordo com o Estado de São Paulo — que tentavam escapar pela única porta. Morreram 231 pessoas, mais de cem ficaram feridas.

“Corríamos sem saber para onde”, contou o músico Valterson Wottrich, que já tinha actuado e estava no camarim quando o incêndio começou. “Estava tudo preto, não havia luz, fui instintivamente em direcção ao que achei que era a porta”, lembra o músico, que neste domingo à tarde tentava saber notícias de dois colegas da sua banda que estavam desaparecidos.

A maioria dos jovens que estavam na discoteca, com idades entre os 16 e os 20 anos, eram universitários das faculdades de Agronomia, Pedagogia, Veterinária e Zootecnia de Santa Maria, e participavam numa festa. Eram comuns as festas universitárias neste local, que fica num bairro de classe média da cidade.

A polícia está a investigar se as portas foram abertas como deveriam e se os extintores funcionaram. Há testemunhos de que as portas não estavam totalmente abertas na altura em que o incêndio começou a espalhar-se e que, por isso, muitos jovens teriam procurado fugir para as casas-de-banho, onde morreram asfixiados ou esmagados.

“Fui um dos primeiros 50 a sair. No início, [os seguranças], ou por não acreditarem nos gritos de fogo ou por não quererem deixar sair gente sem pagar, não abriram as portas. Até que cinco ou seis pessoas derrubaram um segurança e deitaram a porta abaixo”, contou, primeiro no Twitter e, depois, à imprensa brasileira, o estudante de medicina Murilo de Toledo.

Quando os bombeiros chegaram, tiveram de abrir um buraco na parede para tentar retirar mais jovens da discoteca. Só às 5h (mais duas horas em Portugal), os bombeiros conseguiram apagar o incêndio. Mas a quantidade de corpos empilhados e o risco de desabamentos fizeram com que só às 7h considerassem a situação controlada.

Ao início da tarde deste domingo, familiares e amigos das vítimas formavam uma fila de meio quilómetro em frente ao centro desportivo de Santa Maria, para onde os corpos foram levados para identificação. O ginásio foi cercado pela Brigada Militar para evitar tumultos. Até à tarde, um 115 corpos tinham sido identificados. Os telemóveis das vítimas e documentos de identidade foram deixados em cima dos corpos para ajudar à identificação.

As autoridades pediram à população que doasse sangue para os 48 feridos hospitalizados — alguns, uma minoria, são grandes queimados e foram transferidos para hospitais mais capacitados fora de Santa Maria. O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, foi para a cidade.

A Presidente Dilma Roussef antecipou a viagem de regresso do Chile, onde participava na cimeira dos países latino-americanos com a União Europeia, e esteve num dos hospitais que recebeu feridos. Rousseff convocou todos os ministros para ajudar no que for necessário e enviou uma equipa de especialistas forenses para Santa Maria. Antes de sair do Chile, fez uma declaração: “Gostaria de dizer à população do nosso país e de Santa Maria que estamos todos juntos neste momento”. Começou a chorar e não terminou a declaração.

A Federação estadual de Futebol do Rio Grande do Sul cancelou todos os jogos da jornada do campeonato de domingo. E na cidade foi decretado luto de 30 dias. Com pouco mais de 260 mil habitantes, Santa Maria é a quinta cidade mais populosa do estado do Rio Grande do Sul. Fica a cerca de 300 quilómetros da capital, Porto Alegre. É a sede da Universidade Federal de Santa Maria, considerada uma das melhores do estado e tem pelo menos mais sete centros de ensino superior.

A polícia civil ouviu o depoimento de um dos donos da discoteca Kiss e de um dos músicos das bandas — o incêndio aconteceu durante a actuação dos Gurizada Fandangueira; sabe-se que morreu um músico, desta ou da banda que actuara antes.

A discoteca tinha o Plano de Prevenção e Controlo de Incêndios caducado desde Agosto de 2012. O subcomandante-geral da Brigada Militar, coronel Altair Cunha — que é bombeiro e está em Santa Maria para coordenar o rescaldo do incêndio —, disse ao Zero Hora que é normal que se permita o funcionamento dos recintos enquanto aguardam a fiscalização para novo plano, quando existia um anterior aprovado.

Notícia actualizada dia 28/01, às 10h55, foi actualizado o número de mortos de 233 para 231.

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